Pré-candidatos trocam de opinião na véspera da eleição
Terça-Feira, 09 de Janeiro de 2018

Fotos: Ciete Silvério-IG/ Leonardo Benassatto-Reuters/Jorge Araújo-Folhapress

Texto: Da redação da Band, editado pelo AeF

A coerência ideológica raramente acompanha a política, é preciso reconhecer. Então, quando um político muda de opinião em função da conveniência, não chega a espantar. Mas quando três presidenciáveis fazem-no ao mesmo tempo, na véspera da mesma eleição, fica no mínimo curioso.

Bolsonaro

Vejamos o caso do deputado federal e presidenciável Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que acaba de se acertar com o PSL e reforça a deia de ser um defensor da economia de mercado. Recentemente, Bolsonaro escreveu que "o Brasil precisa de um Banco Central independente!". Para ele, com a independência do BC, "profissionais terão autonomia para garantir à sociedade que nunca mais presidentes populistas colocarão a estabilidade do País em risco".

Em 2016, porém, questionado sobre o tema, proferiu:

– Daí eles decidem a taxa de juros de acordo com os interesses dos colegas do mercado financeiro? Então é melhor o pessoal do BC governar o País como se uma junta fosse.

Procurada, a assessoria do deputado informou que ele não se manifestaria.

Lula

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também reviu conceitos de forma radical. Hoje chama a reforma da Previdência de "crime contra o povo mais pobre", mas em 2015 pensava um pouco diferente. Em entrevista, naquela época, declarou:

– A gente morria com 60 anos de idade, com 50 anos de idade, agora a gente tá morrendo com 75 (...). Você não pode ficar com a mesma lei que você tinha feito há 50 anos.

Questionada, a assessoria do petista afirmou que não há contradição e que Lula Ã© contra "essa reforma da Previdência, proposta por Michel Temer".

Alckmin

Já o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que em novembro passado declarou que "um terço das estatais federais foi criada pelo PT e que a maioria delas deve ser privatizada", já teve opinião diferente. Na eleição de 2006, quando disputou o segundo turno com Lula, ele dizia não existir nenhum projeto de privatização.

– Vamos investir em empresas públicas, como Banco do Brasil, Correios, Caixa e Petrobrás.

Na mesma eleição, Alckmin chegou a vestir jaqueta com o logotipo de estatais para indicar que não iria privatizá-las. Questionado agora, o tucano disse que em 2006 procurou "contestar Lula".

– Ele dizia que eu ia privatizar Banco do Brasil e Petrobras. Eram mentiras. Mas eu sempre fui favorável à redução do tamanho do Estado – afirmou.

Oportunismo

Para o cientista político Claudio Couto, da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), essas "reorientações de discursos" têm ocorrido em um grau cada vez mais forte.

– Isso acontece porque o discurso que se faz dentro dos partidos para animar as militâncias costuma ser muito diferente do discurso que é produzido para conquistar o eleitor comum.

O fato é que, até bem pouco tempo atrás, fazia-se isso com mais facilidade, pois o risco de ser pego trocando de roupa, ou melhor, de opinião, era bem menor. Não existia o Google nem as redes sociais. Hoje já não é bem assim, pois o que se diz pode ficar gravado na nuvem e aí qualquer um pode acessar.

Por isso os candidatos precisam estar atentos e lembrar disso antes de sair tagarelando por aí. A coerência ganhou bem mais importância na era da comunicação digital, ao mesmo tempo em que o oportunismo passou a ser identificado bem mais facilmente.



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