CONSIDERAÇÕES DO EPITÃFIO
Segunda-Feira, 22 de Maio de 2017

Caro, estimadíssimo e, em breve, saudoso leitor, venho por meio desta, que possivelmente seja minha última postagem nesta coluna, fazer algumas considerações que considero importantes sobre temas diferentes:


- O Análise em Foco está passando por uma remodelagem e em breve ganhará cara nova, com algumas mudanças no layout e no conteúdo. Minha coluna, por exemplo, deixará de existir, junto com Boca Pequena, Esportes, Mundo Beevy e Parabólica. Elas darão lugar a duas novas páginas, onde vamos reforçar a postagem de conteúdos audio-visuais e ampliar a mistura entre factual e analítico, que é uma propriedade bem particular do AeF e que o diferencia bastante da concorrência. Os conteúdos de maior profundidade e densidade analítica seguirão intocados na principal página do portal, Personalidade, que, no entanto, deverá mudar de nome. Nenhuma das páginas que serão retiradas, contudo, morrerá definitivamente. Elas ressuscitarão, revigoradas, num futuro que, espero, possa ser o mais breve possível.


A mudança ocorre por necessidades ligadas a questões de mercado e de estrutura. Como tenho ressaltado (veja post), estamos focados no desenvolvimento de um projeto paralelo, que fortalecerá nossas iniciativas como um todo e permitirá que dentro de algum tempo o próprio AeF receba novos recursos para investir. O objetivo principal da reformulação do Análise é facilitar o fluxo de atualizações e a divisão de trabalho nesta transição temporária de projetos. Hoje, pela natureza do nosso conteúdo e por uma especifidade técnica, é mais difícil incluir pessoas no processo de produção editorial, principalmente à distância. Com as mudanças, que envolvem também uma atualização no editor de texto do portal, poderemos recrutar reforço extra mais facilmente.


Neste sentido, contudo, estamos de olho na reforma trabalhista, pois vai ser imprescindível contratar com carga horária e jornada mais flexíveis. Ou seja: contratos por hora de trabalho e possibilidade de cumprir parte da jornada em local próprio, fora do ambiente corporativo. Ã‰ preciso ter as pessoas lado a lado na hora de pensar coletivamente e trocar experiências, não na hora de bater prego na estopa. Sem falar que jornada integral hoje não cabe em nosso bolso nem fu&¨%%##¨&, com o país aos trancos e barrancos tanto política quanto economicamente.


Mas, a despeito de todas as mudanças, eu ainda não me livrei do karma de escrever nossos editoriais de Capa, que seguem sendo nosso principal lastro editorial. E vocês, por outro lado, ainda não se livraram da má sorte de ter que aguentar os meus textões, hehe.


- Agora mudando de mala para saco, sinceramente acho que não vale mais a pena procurar pelas motivações da operação que fisgou mais uma rodada de tubarões na Lava Jato. Ninguém fala abertamente, mas o que todos querem dizer é que pode ter sido o PT que articulou a queda do Aécio e do Temer, o que não é impossível. Se foi, não houve mal nenhum nisso, pelo contrário. Afinal, não estamos falando de um chá de comadres, mas de uma briga de foice. Assim, se outras forças já se mobilizaram contra os petistas, que eles tenham o mesmo direito de se mobilizar contra elas, caso tenha sido este o caso, o que não duvido, mas também considero provável. Nunca se vai saber ao certo, ou muito dificilmente. Política é assim, e democracia também se faz através dela. Para o cidadão, o que importa é que, ao se abrir as cortinas, apareça sempre a verdade, como foi o caso agora. Quais forças ficarão na coxia para abri-las e fecha-las é o que menos importa.


Ficar debatendo como tudo começou e terminou é como ficar tentando identificar de quem foi a culpa quando o relacionamento conjugal chega ao fim. É conclusão à qual nunca se chega. Quem foi mais insensível, quem magoou mais, quem traiu e quem não traiu, quem foi mais ausente, quem foi a mais reuniões da escola, etc, etc, etc. Não adianta, já era, negócio é cada um seguir sua vida, mantendo sempre o relacionamento na esfera não efetiva.


Bola pra frente, portanto, o que importa, objetivamente, a partir de agora, é só uma coisa: ver Aécio, Lula e Temer na cadeia. Seria aquela última camada de um gigantesco e delicioso bolo para a sociedade brasileira – a cereja é a aprovação das 10 Medias Contra a Corrupção, propostas pelo Ministério Público com apoio de 2 milhões de brasileiros.


Sobre a ida do Joesley Batista livre, leve e solto para os EUA, fica difícil imaginar que ele topasse trair a máfia e entregar a cabeça dos Capos se continuasse com a dele próprio a prêmio no Brasil. Afinal, nenhum delator até agora tinha aceitado gravar os comparsas ardilosa e dissimuladamente, a mando da PF e dos “adolescentes†do Ministério Público, como disse o Gilmar Mendes sobre os jovens promotores da Lava Jato, que estão ajudando a sociedade a passar o Brasil a limpo.  Há outro aspecto que precisa ser considerado nessa história toda, não como justificativa, mas como variável: Batista não ganhou dinheiro vendendo serviços superfaturados para o governo. Ele obteve vantagens para acessar linhas de crédito e benefícios tributários, que, teoricamente, não causam prejuízo ao patrimônio público – não na escala de seus colegas construtores.


Olhando friamente para os fatos, portanto, pode-se concluir que o custo benefício da operação foi favorável. Pelo tamanho dos peixes fisgados e pela dimensão das coisas descobertas, saímos no lucro. Pegar um Aécio Neves da vida, que fez o Lula parecer até um inocente torneiro mecânico quando se compara o que diz o tucano na gravação de Batista e o que disse Lula a Dilma no grampo da Lava Jato, é realmente um belo prêmio na guerra que o Brasil trava contra a corrupção.


- E falando no Aécio Neves, nesta segunda-feira fui a um evento na prefeitura de Blumenau e estava imaginando que seria tratado com frieza pelo pessoal da Praça Victor Konder. Afinal, sentei o porrete em um dos principais nomes do PSDB no último editorial de Capa do Análise em Foco. Achei que seria desprezado solenemente, ou algo parecido, mas não foi o que aconteceu, pelo menos nas aparências. Fui tratado com a cordialidade de sempre e o prefeito Napoleão Bernardes (PSDB) até me deu um susto quando entrei no Salão Nobre da Prefa, falando meu nome tão alto que por um segundo achei que pudesse ser um aviso aos demais sobre minha presença indesejada. Mas foi na verdade um fair play digno de jogadores leais. Poderia pensar até que talvez não tivesse visto a publicação, mas, como sei que acompanha de perto o portal (o prefeito já reconheceu ser internauta assíduo do AeF), creio que viu.


Napoleão, para falar a verdade, é destas figuras que você fica torcendo para não caírem na vala comum da política – o ex-prefeito João Paulo Kleinübing (PSD), hoje deputado federal, também, talvez seja por isso que os dois mantenham boa relação. São sujeitos que fazem você acreditar na possibilidade de ver um cidadão comprometido com resultados no poder, olhando para o coletivo, procurando trabalhar sério, querendo ver o terreno semeado e a colheita efetuada – pelo menos é a impressão que passam aos interlocutores. Infelizmente, o sistema político no qual precisam apoiar suas carreiras está comprometido e muitas vezes suas biografias acabam afetadas por este comprometimento. Ambos já tiveram problemas desta natureza. Afinal, ninguém até hoje cogitou mais seriamente a possibilidade de que Napoleão e Kleinübing sejam corruptos, por exemplo, pelo modo de vida simples que levam e o estilo low profile que ostentam. Mas por outro lado ninguém duvida também de que dinheiro não muito limpo já tenha passado pelo caixa de suas campanhas eleitorais, considerando tudo que se sabe e ouviu falar nos últimos tempos sobre financiamento de campanha.


É daí que eu digo que uma reforma política séria, comprometida com o interesse público e o bem comum, pode fazer um bem enorme para a biografia de sujeitos como Napo e JPK, entre muitos outros (para sermos justos vamos incluir nesta lista também o ex-prefeito Décio Lima,do PT, que fez uma gestão de grandes resultados em Blumenau). E vai ser bom também para todos que os cercam, pois ajudará o país a reduzir a corrupção e crescer mais rápido, gerando assim muitas novas oportunidades. A administração pública tem pessoas competentes, sim, por mais que não pareça. Tem gente que poderia trabalhar na iniciativa privada com folga, pela experiência acumulada na gestão de pessoas, por exemplo – conheço sujeitos na política que gostaria de ter na empresa para solucionar conflitos internos, por exemplo, uma constante na vida pública e na privada também.


Voltando ao início, na quarta-feira publicamos material sobre o lançamento do novo Portal da Transparência da Prefeitura de Blumenau, apresentado nesta terça-feira durante o evento a que me refiro mais acima.


Despedida


Well, então era isso, feitos os esclarecimentos, ponderações e conjecturas necessários, vou me despedindo de você, caro, nobre e estimadíssimo leitor e internauta, que ao longo destes 8 anos que vamos completar no próximo dia 25 de julho esteve conosco, que ajudou a transformar um sonho em realidade, a abrir um novo caminho, uma nova trilha por onde muitos hoje encontram seu lugar ao sol. No dia 25 de julho de 2009, quando entramos na Web, nem as forças então hegemônicas (hoje já sem tanta hegemonia) da comunicação local acreditavam que o espaço virtual seria terreno para bons negócios. Nós acreditamos, deu no que deu, e hoje o mercado simplesmente não é mais o mesmo que era quando nós nadamos contra a corrente para fazer de nosso pioneirismo o precursor de uma nova onda de oportunidades, que hoje permite a vários outros empreendedores arriscarem-se no mar do empreendedorismo.


Vale observar que quando criamos o Análise em Foco não fizemos peregrinação em busca de publicidade oficial para sustentar nosso negócio, como fazem hoje alguns aventureiros, criando uma página hoje e buscando anúncio do poder público amanhã. Nós gastamos algumas dezenas de milhares de reais mantendo inicialmente, com dinheiro do próprio bolso, equipe de 12 profissionais, de diferentes áreas, unidos em torno do sonho de revolucionar a comunicação local â€“tenho dívidas desse período até hoje. Só depois de um ano e meio operando e produzindo conteúdo da melhor qualidade, já com um público fiel e muita credibilidade, captamos nossa primeira campanha de publicidade da prefeitura.


Quando isso aconteceu, não faltaram insinuações jocosas de que éramos só uma ferramenta do projeto de poder que comandava o município na época, com o objetivo de assegurar sua manutenção no poder. Havia quem dissesse que o Análise em Foco acabaria depois da eleição de 2012 – uma vez recebi um e-mail apócrifo que perguntava: “Será que o tal do ´aef´ dura mais de 18 meses (era o tempo que faltava para a próxima eleição quando captamos nossa primeira campanha de publicidade do poder público)â€?


Aquilo me magoava muito, por todo o esforço que eu estava fazendo para empreender (nossos primeiros clientes foram todos da iniciativa privada), mas ao mesmo tempo me motivava demais, pois sabia que um dia quem dizia isso seria forçado a mudar de opinião.


Também ouvi certa vez que, se a Prefeitura de Blumenau fosse do PT, eu não bateria tanto em Lula e Dilma como bati nos sucessivos escândalos de seus governos. Isso eu nunca respondi, porque sabia que um dia daria minha resposta com gestos, e não com as palavras, como aquelas de cunho ofensivo que me foram direcionadas em diferentes momentos, simplesmente porque eu estava tendo a coragem de empreender com as armas e recursos que tinha na mão, gerando oportunidade para um monte de gente. Para estas pessoas deixo agora, além do meu adeus, a postagem que fiz sobre o Aécio Neves, que seguramente não deve ter agradado tanto assim aos tucanos de Blumenau. Faria o mesmo falando de Lula ou Dilma caso o prefeito fosse petista e não tucano, tenham certeza absoluta disso. A nossa credibilidade não tem mídia ou anunciante que compre.


Para quem acompanha e torce pela gente nestes quase 8 anos de vida, reforço que me despeço desta coluna, mas não do portal. Sigo como sócio majoritário, fundador, editor, administrativo, financeiro, blá,blá,bla, Salim faz de tudo na empresa (risos). Ao longo do tempo é possível que haja um distanciamento do portal, já que devo me focar no Beevy em algum momento, mas até lá todos ainda terão de me engolir, como diria mestre Zagalo.


Fora isso, só me resta dizer novamente aquilo que nunca deixei nem vou deixar de dizer: muito obrigado pela sua companhia, ela foi decisiva neste 8 anos de parceria e continuará sendo nos próximos oito. Contamos com você, sempre, afinal sem você nós perdemos a razão de existir.  


 


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Rodrigo Pereira
Jornalista, formado e pós graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina, acumulou 10 anos de experiência como editor e repórter em três jornais catarinenses. Nesta coluna, assume a função de analista, comentando aspectos e nuances dos acontecimentos relatados pela mídia.
É a interpretação dos fatos por quem conhece a notícia.
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