Uma agência de publicidade de Blumenau procura desesperadamente um profissional de criação gráfica que tenha domÃnio do pacote Adobe CS4 (Photoshop, Illustrator, Indesign) e conhecimentos
Afirmo isso porque eu mesmo propus-me a ajudar a recrutadora da agência, com quem mantemos diálogo. Acionei minha rede de contatos, alguns currÃculos apareceram, mas, até o momento, a vaga ainda não encontrou candidato à altura. Ou quem se candidata tem deficiências de formação, ou aqueles que poderiam ser contratados estão bem empregados e remunerados em outras empresas.
Enquanto isso, o trabalho segue acumulando na mesa da agência e toda a cadeia que a cerca se recente dos efeitos. É emprego e renda que deixam de ser gerados, é imposto que deixa de ser arrecadado, é oportunidade de crescimento que acaba sendo desperdiçada. Trata-se de verdadeiro “apagão de talentosâ€, como definiu certa vez, há um ano, a executiva de uma grande empresa da cidade. Na época, eu trabalhava como repórter do Jornal de Santa Catarina e fazia uma reportagem especial sobre as carências de qualificação de mão-de-obra observadas em Blumenau, quando ouvi a definição que tão bem se encaixa à realidade do mercado de trabalho no Brasil.
Eu havia obtido, com exclusividade, depois de recorrer a quase todas as minhas fontes, uma pesquisa encomendada pela Acib ao Ipac, guardada até hoje a sete chaves. Eu mesmo não abro minha cópia para ninguém.
A conclusão do estudo é escabrosa: 83% das empresas blumenauenses, na hora de contratar, não encontram o candidato ideal. Ou ficam sem preencher a vaga, ou colocam ali um trabalhador que não tem toda a qualificação desejada.
Da estatÃstica para a realidade, deparei-me enfim com o problema. E aà chegamos a uma hipótese que sempre defendi: o Brasil não conseguirá crescer mais do que 5% ou 6% ao ano se não desfazer o gargalo da qualificação profissional. Não sonhem com isso, esqueçam. Jamais cresceremos acima deste patamar sem ter trabalhadores qualificados para produzir.
Vamos esbarrar sempre nesse limite se não melhorarmos muito a qualidade do ensino fundamental, médio e técnico no paÃs. O ensino superior está bem resolvido, mas a base está com deficiências. É preciso ter mais e melhores escolas e cursos técnicos.
O ensino técnico até que vem recebendo investimentos, que devem começar a dar resultados a médio e longo prazo.
Mas o problema é que o primeiro pavimento da pirâmide, onde está o ensino fundamental e médio, está podre e corre risco de não suportar o restante da estrutura. As escolas públicas são ruins, têm infraestrutura deficiente e professores mal pagos. Na mesma reportagem a que me referi acima, ouvi do diretor do Cedup, uma das melhores escolas de ensino técnico de Blumenau:
- Tem alunos que chegam ao curso técnico sem saber as operações matemáticas básicas.
Para estes, a instituição oferece “intensivosâ€, de reforço, para que os alunos, recém chegados ao nÃvel técnico, possam recuperar a defasagem de aprendizado que lhes foi imposta no ensino fundamental e médio.
Assim não dá, está tudo errado. O resultado está aÃ, para quem quiser enxergar: falta mão-de-obra qualificada para que as empresas possam produzir mais e fazer a economia do paÃs crescer. Paramos no mais implacável e robusto dos obstáculos ao crescimento econômico: a educação deficiente.
Isso chega a abalar meu otimismo crônico.
Rodrigo Pereira Jornalista, formado e pós graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina, acumulou 10 anos de experiência como editor e repórter em três jornais catarinenses. Nesta coluna, assume a função de analista, comentando aspectos e nuances dos acontecimentos relatados pela mídia. É a interpretação dos fatos por quem conhece a notícia. |