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PRISÃO DE EXECUTIVOS DA J&F FORTALECE DEMOCRACIA BRASILEIRA
Segunda-Feira, 11 de Setembro de 2017

OPINIÃO DO ANÁLISE

O procurador-geral da República faz basicamente duas coisas, além de cuidar dos despachos administrativos do Ministério Público: apresenta ou não à Justiça denúncias formuladas por colegas promotores, responsáveis por investigações sobre a prática de crimes no Brasil, inclusive os que envolvem a esfera pública. Em linhas gerais, esta é a principal atribuição  do cargo ocupado até o próximo dia 18 por Rodrigo Janot.

Num passado recente já chamou-se o procurador, ironicamente, de engavetador-geral da República, pela quantidade de processos que terminavam nas gavetas do MP por decisão de seu comandante. Operações análogas à Lava Jato, envolvendo procedimentos investigatórios sobre fraudes na administração pública, costumavam ter desfechos menos favoráveis justamente porque as iniciativas que poderiam levar a eventuais condenações paravam sob a mesa do procurador-geral.

Atualmente a imagem do chefe do MP passou por uma transformação. Sob a liderança do procurador Rodrigo Janot, a Procuradoria-Geral da República tornou-se uma espécie de caixa amplificadora do trabalho dos promotores – e das expectativas médias da sociedade, que prefere ver os casos sendo julgados (mesmo que levem a absolvições) a vê-los morrer antes mesmo de chegar à mesa dos juízes. No caso da delação dos executivos da J&F, houve quem acusasse o procurador de açodamento, insinuando até eventuais interesses particulares na forma um tanto atabalhoada como o processo parece ter sido conduzido.

A despeito de eventuais equívocos do MP, da PF e do próprio Janot (afinal eles também erram, como qualquer outro cidadãona condução dos casos pelos quais foram responsáveis, é importante destacar que interessa mais à sociedade o açodamento do que omissão nestes casos. Será muito mais vantajoso que os processos sigam adiante, mesmo com imperfeições, do que parem no meio do caminho, apesar das provas e evidências que muitas vezes são levantadas. Buscando um enquadramento mais objetivo para o assunto, à luz da lógica e da razão, esta é a conclusão a que se chegará. 

 

Alívio

Neste contexto, a prisão de Joesley Batista e Ricardo Saud traz um alívio grande para quem acredita na seriedade e na solidez das instituições brasileiras – algo que ainda nos difere substancialmente da Venezuela, por exemplo. Depois da atmosfera nebulosa criada em torno do episódio envolvendo as gravações e as delações da dupla animal do agronegócio brasileiro, seria uma cicatriz irreparável a manutenção do salvo-conduto para os dois executivos da J&F. Tanto para a biografia de Rodrigo Janot quanto para a credibilidade do Ministério Público e da Polícia Federal. Seria também um estímulo extra para a volta dos engavetadores da procuradoria, que possivelmente agradaria até membros do Judiciário, conforme se pode depreender, às vezes, pela argumentação e atitude de magistrados como o ministro Gilmar Mendes, do Superior Tribunal Federal.

Por isso cidadãos chegaram a soltar foguetes quando a Polícia Federal foi dar uma carona até a delegacia para os autores do célebre hit “Nós não vai preso”. Eles comemoravam  a chegada ao topo do novo hit da estação, o contagiante “Nós vai preso, sim”, que acaba de dominar as paradas na lista da Polícia Federal, do Ministério Público e do Supremo Tribunal Federal. Assim, sim, o povo canta feliz, cheio de animação e muita idolatria pelos autores do novo sucesso, bem mais agradável aos olhos e ouvidos do cidadão brasileiro.

Fortalecimento

A empolgação, contudo, vai acabar tão logo os caipiras falastrões do agronegócio brasileiro sejam colocados na rua novamente. Que os promotores, os ministros e os juízes tratem de mantê-los atrás das grades pelo tempo mínimo necessário, portanto, para que paguem por todo o mal que fizeram ao sistema político, fiscal, administrativo e econômico do país. Só isso dará ao cidadão brasileiro a sensação de que vale a pena ser honesto e trabalhar de forma correta pelo futuro do Brasil, como faz a maioria absoluta dos brasileiros.  

Só isso poderá transformar mais este grande escândalo em oportunidade de fortalecimento das instituições e da democracia brasileira.




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