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QUE SEJA BEM VINDA A NOVA PONTE
Sábado, 23 de Setembro de 2017

EDITORIAL AeF

Depois de fartas doses de polêmica e postergações, a licitação da nova ponte de Blumenau parece estar próxima, enfim, de um encaminhamento definitivo. Nesta segunda-feira, a comissão de licitações da prefeitura reúne-se novamente com as 18 empresas de diferentes estados que apresentaram proposta para a tomada de preços que determinará a empreiteira responsável pela obra. Depois de um pregão frustrado por determinação do Tribunal de Contas do Estado, a administração municipal conseguiu reverter a decisão e agora espera poder dar sequência ao processo com a realização de nova tomada e definição do vencedor.

Blumenau agradecerá bastante pela solução do impasse se ele de fato vier, afinal, em uma cidade cortada ao meio por um rio e fortemente integrada através de suas diferentes regiões e quadrantes (muita gente mora ao Norte mas atravessa o Centro todos os dias para trabalhar no Sul, outras cruzam-no para ir de Leste a Oeste), pontes nunca serão demais. Principalmente se considerada a taxa substancial de crescimento populacional do município, que desde 1950 viu sua população aumentar 723%, indo de 48,1 mil habitantes para 348,5 mil em 2017, segundo estivativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Crescimento médio de 10,7% ao ano. O Brasil, no mesmo período, cresceu 398%, média de 5,9% ao ano. É praticamente a metade do que cresceu Blumenau.

Defasagem

Se for considerado que para cada blumenauense existe quase um veículo automotor rodando pelas ruas da cidade (a frota municipal, incluindo automóveis, motos, caminhões/caminhonetas e ônibus é de aproximadamente 250 mil veículos), pode-se concluir rapidamente que a demanda por infraestrutura viária é intensa e a necessidade de investimentos frequente em Blumenau, assim como a defasagem de seu equipamento viário. Assim, quando se tem uma polêmica como a que se instaurou em torno da construção da nova ponte no Centro, ligando a rua Itajaí à rua Paraguai para desviar parte do fluxo de automóveis das ruas centrais, tem-se um exercício legítimo de democracia, mas tem-se também um tempo perdido com uma discussão que atrasa o desenvolvimento da cidade. Uma questão de custo-benefício: de um lado reserva-se o direito das partes contrárias manifestarem-se e expressarem suas opiniões/interesses, do outro vê-se as cidades que avançam mais rápido em infraestrutura se desenvolverem mais e passarem Blumenau no ranking do PIB catarinense, como Florianópolis e Itajaí.

Impactos urbanos, sociais e ambientais são inexoráveis quando se precisa fazer uma cidade avançar em infraestrutura. Seria melhor que não houvesse nenhuma ponte na famosa curva do rio, em Blumenau, cenário que encanta blumenauenses e turistras, não resta dúvida. Mas onde colocá-la, então? Muita gente tem sugestão de locais alternativos para a ponte, mas, quando se olha para a necessidade de se desviar parte do trânsito das vias centrais da cidade, resta pouca dúvida de que aquele é o lugar mais indicado – respeitando as opiniões contrárias, evidentemente, igualmente legítimas. Pode não ser o lugar ideal, mas seguramente é o mais adequado do ponto de vista viário. Há décadas é cogitado para receber a nova estrutura mas esbarra sempre no posicionamento contrário de parte da sociedade local, principalmente aquela com ligação mais direta ao bairro Ponta Aguda, onde o novo complexo viário será instalado.

Intervenção

Quem for ao local designado para a obra perceberá que, se o traçado apresentado nas perspectivas do projeto for rigorosamente cumprido, não irá sobrepor nem a curva do rio nem a prainha, equipamento urbano bastante apreciado pelos blumenauenses – bem mal cuidado há alguns anos, aliás. A nova ponte vai interferir no cenário urbano de forma sensível, é evidente, mas esta intervenção é parte do crescimento da cidade, não há como ser diferente.  

Para o pescador ocasional que na sexta-feira ao meio dia passava o tempo monitorando suas iscas, no ponto onde a nova ponte vai se conectar à margem esquerda do rio Itajaí-Açu, a estrutura não vai ser nenhum o problema, pelo contrário.

– Quem sabe dão uma arrumada por aqui, anda tão mal cuidado – comentou em conversa com o editor do Análise em Foco.

Quem quiser conferir o que ele pensa sobre o assunto pode procurar por ele no local, garante que uma ou duas vezes por mês aparece em busca de carpas capim.

Projetos

Quem sabe seja hora, portanto, de pensar em projetos complementares de urbanização para o entorno da nova ponte – parcerias público-privadas seriam muito bem vindas para isso. A própria prainha poderia ser repaginada com a chegada da nova estrutura. Como está hoje, está bem distante daquilo que os blumenauenses esperam dela e daquilo que ela já foi um dia, quando era o que o parque Ramiro Ruediger é hoje para a Blumenau. Em Nova York, por exemplo, todo o entorno (incluindo a parte continental inferior) da ponte do Brooklyn, eternizada em incontáveis filmes de Hollywood, foi transformado em parque para atividades de cultura e lazer. Tornaram-se equipamentos indispensáveis da Big Apple e seu gigantismo arrebatador. Nada impede Blumenau de fazer o mesmo, é só ter boa vontade e disposição para trabalhar e investir. Os desafios, por aqui, serão bem menores, considerada a diferença de dimensão entre as duas cidades.

Também é hora de avançar no debate e começar a discutir outras soluções de infraestrutura viária para a cidade, como elevados e túneis.  A região onde ficará o novo complexo viário do qual a nova ponte faz parte é um exemplo claro desta necessidade, pois tem um gargalo de fluxo que continuará existindo mesmo com a nova estrutura.  No cruzamento da rua República Argentina com a Avenida Brasil e com a rua Paraguai – esta última vai ligar a margem esquerda do rio Itajaí-Açu à nova ponte – os congestionamentos são rotina na hora do rush e continuarão desafiando a paciência dos motoristas enquanto não for construído ali um elevado para que o fluxo de automóveis possa ser ininterrupto em cada uma das vias. Por isso o novo equipamento viário contribuirá bastante para melhorar o trânsito na margem direita do Itajaí-Açu, desviando parte do tráfego das vias centrais, mas na margem esquerda os problemas continuarão na região central. 

Vale lembrar, para efeitos de comparação, que no período em que Blumenau discute a construção de uma nova ponte a capital Florianópolis já construiu quatro elevados, um túnel, o aterro da baía sul e a duplicação da rodovia que leva ao Norte da Ilha.

Chorumela

Talvez por isso seja o momento de se começar a pensar em mais ação e menos chorumela. Blumenau não pode parar no tempo porque uma ponte vai estragar uma foto ou eventualmente desvalorizar o terreno de alguém. Impedir a cidade de se desenvolver para preservar interesses localizados certamente vai privar a maior parte da sociedade blumenauense dos benefícios que ela merece por entregar seu trabalho e sua vida à cidade. Pensemos mais no todo do que no particular, seguramente vai ser mais positivo para nossa querida e amada Blumenau – inclusive para quem inicialmente perde alguma coisa com desvalorização imobiliária, pois quando a cidade se desenvolve, todos acabam ganhando com isso.

Respeitando sempre, claro, quem pensa diferente. Esta é apenas e tão somente a nossa opinião, que expressamos com o único objetivo de participar do debate e, eventualmente, contribuir com ele. Este é nosso objetivo e missão como veículo de comunicação, e qualquer opinião contrária à nossa receberá mesmo espaço e prestígio.




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