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UM SHOW DE SIMPATIA E DESCONTRAÇÃO NA VISITA DO ALEMÃO
Quinta-Feira, 05 de Outubro de 2017

A Oktoberfest de Blumenau, além de palco privilegiado da alegria e da descontração, também acaba sendo espaço de muitos negócios, ou de preparação para os mesmos. Dos camarotes da Vila Germânica, onde empresas e clientes se deleitam juntos no embalo da música, da gastronomia e da tradição germânica, aos encontros político-diplomáticos decorridos do evento, a possibilidade de gerar movimento econômico e financeiro é sempre latente durante a maior festa da tradição germânica fora da Alemanha – este ano até o embaixador do Reino Unido virá a Blumenau, no próximo dia 9, para conhecer a festa, a cidade e as eventuais oportunidades de negócio que ela oferece.

Na tarde desta quarta-feira o prefeito Napoleão Bernardes já colocou a roupa da missa para receber, em seu gabinete, o embaixador da Alemanha no Brasil, que veio a Blumenau, em missão diplomática para lá de descontraída, prestigiar a abertura do mais popular evento do país durante as próximas três semanas. Falando bem mais em chope e descontração do que em negócios e faturamento, Georg Witschel esbanjou simpatia, humildade e cavalheirismo, numa demonstração clara de quem sabe colocar a postura acima da importância – estava tão despojadamente vestido, aliás, que chegou a destoar ao lado de Napoleão, pomposamente trajado para receber o ilustre visitante.

No encontro com o embaixador, além do prefeito, estavam o cônsul da Alemanha em Blumenau, um vereador, o presidente da Fundação Cultural e jornalistas de três veículos diferentes. A reunião foi rápida e, além de descontraída, também foi muito objetiva: as empresas alemãs, que já fazem investimentos significativos na cidade e na região, podem investir ainda mais se os blumenauenses e seus vizinhos melhorarem a proficiência em língua estrangeira, principalmente inglês e, claro, alemão. Questão que, se não é decisiva na análise das empresas, é especialmente importante, reconheceu o diplomata – é preciso reconhecer, portanto, que ainda não somos suficientemente competitivos nesta área.  

– Não são todos os funcionários que precisam dominar o inglês e o alemão, mas pelos menos os que tratam das operações mais internacionalizadas de uma empresa – observou o embaixador.

Projeto

O prefeito Napoleão Bernardes destacou que Blumenau já tem um projeto de inclusão do idioma alemão no currículo da rede municipal de ensino e elogiou o esforço do vereador Sylvio Zimmermann, líder do governo na Câmara de Vereadores, em incluir a cultura e a proficiência linguística como ferramentas eficientes de diplomacia e relacionamento comercial, principalmente entre países e cidades com afinidades culturais e econômicas como Brasil e Alemanha. Zimmermann articulou a estratégia enquanto foi presidente da Fundação Cultural do município, que hoje engloba também a Secretaria Institucional de Relações Internacionais.

– O vereador Sylvio, por todo seu preparo, poderia ter contribuído em qualquer área do governo quando participou dele, mas foi na Fundação Cultural que deixou este importante projeto como legado – comentou o prefeito durante o encontro com o embaixador da Alemanha e convidados.

Trabalho

Foi um elogio merecido, pois, segundo o atual presidente da Fundação Cultural, Rodrigo Ramos, Zimmermann realmente deixou um trabalho bem encaminhado na autarquia.

O ex-presidente da Fundação e hoje vereador, presente ao encontro com o embaixador, destacou que não se pode ter a pretensão de que todos os blumenauenses falem alemão ou inglês fluentemente, mas que pelo menos uma parcela significativa da população possa ser bilíngüe.  

– Se 10% dos blumenauenses falarem mais de uma língua já estará ótimo. Mas para chegar a este resultado é preciso fazer um esforço amplo de estímulo a quem tem interesse em falar outra língua – observou Zimmermann, ele próprio um poliglota dedicado (ontem, com o embaixador, mostrou que o alemão é uma das quatro línguas que fala fluentemente).  

A questão, a partir de agora, é acelerar o processo para que a língua estrangeira possa chegar às fases mais iniciais do aprendizado no município, quando as crianças estão mais propensas a assimilar conteúdos lingüísticos e vocacionais.  

Chope e alegria

Mas, voltando ao embaixador, ele queria mesmo era falar de Oktoberfest, de chope e de alegria. Observou que a sangria do primeiro barril de chope na festa de Munique, em sua terra natal, é feita sem desperdiçar uma única gota do precioso líquido, ao contrário daqui, em que a graça da brincadeira está exatamente em derramá-lo na forma de jato sobre a plateia – piadas e analogias sobre desperdício no Brasil foram poupadas, por não cairem bem no agradável momento de diplomacia e descontração da quarta-feira.

O fato é que a nossa Oktoberfest, depois do evento homônimo da Alemanha, é a maior festa da tradição germânica em todo o globo, até que se prove o contrário.  Blumenau parece realmente se transformar em uma espécie de sucursal da Alemanha no Brasil durante o evento. Pelo menos foi o que o embaixador alemão fez parecer durante a visita de quarta-feira, tão despojado e à vontade que parecia estar em solo blumenauense. Realmente deu a impressão de se sentir em casa.

Na ocasião, o prefeito aproveitou para entregar um livro com cópias raríssimas de manuscritos do Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau, fundador da colônia que deu origem a um dos municípios mais prósperos e célebres do Brasil – existem outros dois exemplares, apenas, o que leva a concluir que o simpaticíssimo Georg Witschel passa a ter em mãos um pedaço importantíssimo da história de uma cidade e de dois países. Ele ganhou também um caneco de chope do prefeito, alusivo à 34ª edição da Oktoberfest blumenauense. Neste caso, contudo, quem deve ter poupado a piada foi o embaixador, já que os canecos de chope na festa de seu país são pelo menos quatro vezes maiores do que os utilizados por aqui.

Mas isso certamente não terá a menor importância. Do encontro da última quarta-feira, fica a sensação de que o entrosamento de dois povos com tantas diferenças e semelhanças fica bem mais natural e calosoro por aqui. Viva a Blumenau, viva a Oktoberfest, viva a alegria. E viva ao chope, claro, pelo qual o embaixador e sua gente têm tanto apreço e cuidado. Ein Prosit!

Em tempo: bebamos todos com moderação e discernimento, para que tudo seja apenas e tão somente alegria e descontração

Rodrigo Pereira, editor do Análise em Foco




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