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OS FARDOS QUE IMPEDEM O BRASIL DE SER PROTAGONISTA
Terça-Feira, 27 de Janeiro de 2015

"Quando o assunto é a burocracia logo nos lembramos de obras e questões ligas ao poder público. A palavra, que mais parece uma desculpa para tanta demora, é até certo ponto uma necessidade. Garantir que tudo vai ocorrer dentro da legalidade é essencial. Contudo, se engana quem acredita que burocracia está limitada as coisas públicas.


A inovação, que vem sendo cada vez mais discutida e aplicada, também dá a cara a tapas para vencer, além dos velhos conceitos, os trâmites legais. Um grande exemplo é o Bianchini Business Park, um parque tecnológico multissetorial e inovador com 685 mil metros quadrados, localizado no bairro Itoupava Central, em Blumenau. O local vai abrigar área de saúde e educação, centro de eventos, escritórios inovadores e até mesmo um parque ecológico com 105 mil metros. Toda a estrutura visa à sustentabilidade aliada a tecnologia e a inovação.


Ao longo desses quatro anos de projeto e estruturação todas as necessidades foram superadas, como incentivos, infraestrutura e licenças, porém, vencer os entraves públicos não foi fácil. Para qualquer proposta é necessária uma série de documentos e autorizações. Cada certidão depende da conclusão de outra e, entre um dos grandes problemas, está o período de validade de cada certidão, algumas tem legitimidade por 20 dias e outras de apenas cinco dias. Juntando isso a burocracia dos departamentos públicos, a demora é garantida.


Foi preciso uma boa equipe jurídica de apoio para assegurar que os documentos fossem válidos por mais tempo e assim conseguir as licenças para dar andamento ao projeto. Entre as consequências estão o adiamento de alguns prazos e nos recursos. Quanto mais tempo para tudo ficar pronto, mais oneroso é o projeto final.


Sabemos da importância de seguir as leis e ter as devidas autorizações, mas não podemos concordar com aquilo que popularmente de se chama de burrocracia, quando a impressão que se tem é que o próprio sistema vai contra o desenvolvimento. Além de oportunizar que empresas se instalem na região, o Bianchini Business Park contribuirá com a economia local, gerando empregos e garantindo mais arrecadação para o município".


Por Giovani Bianchini, proprietário do Bianchini Business Park


OPINIÃO DO PORTAL


Além da burocracia, que atrasa e dificulta a vida de quem quer empreender, a inovação também enfrenta outro obstáculo no Brasil: a falta de apoio para quem tem uma boa ideia mas não encontra recursos para desenvolve-la e transforma-la em um produto lucrativo.


Embora o país esteja avançando nesta frente, com iniciativas que começam a favorecer a inovação e o desenvolvimento de tecnologia em solo tupiniquim, ainda está muito aquém do desejado para ser protagonista na era da economia criativa, como vem ficando conhecido o movimento de expansão dos negócios na esfera digital.  


Tanto para obter recursos financeiros quanto para ter acesso a serviços que viabilizem o desenvolvimento de seu projeto, o empreendedor que se arrisca pelo universo da inovação precisa estar preparado para doses e mais doses extras de risco e dificuldade na hora de tentar transformar sua ideia em sucesso de vendas. No Brasil a cultura do investimento, ao contrário do que ocorre nos EUA, por exemplo, ainda é muito atrasada e afasta investidores em potencial do caminho dos empreendedores – hoje quem quiser captar um investidor para alavancar seu negócio precisa convencer um fundo internacional de investimento, que geralmente chega por aqui com muito mais receio do que disposição para investir, ou, então, contar com a sorte para que algum endinheirado qualquer, por obra do acaso, apareça para injetar alguns trocados na iniciativa.


Na América do Norte, os mais ricos fazem fila em busca de boas oportunidades para investir, aguardam ansiosos pela notícia de negócios promissores onde possam colocar dinheiro – não só na área de inovação e tecnologia, mas em qualquer segmento da economia que possa ser lucrativo. É uma cultura de investimento arraigada, que, associada a outros fatores culturais e estruturais, produz um ciclo altamente virtuoso, estimulando o empreendedorismo e desenvolvendo grandes ideias. Não por acaso, o Tio Sam tem sempre o mundo a seus pés.


No Brasil, quem investe – ou poderia investir – morre de medo de perder seu dinheiro e assim prefere deixa-lo descansando em imóveis ou no mercado financeiro,por exemplo. E com boa dose de razão, pois em um país que oferece tanto custo e risco ao investimento, melhor mesmo não arriscar.


Desestímulo


O governo, a seu lado, também faz pouco ou quase nada por quem inova – ou tenta inovar. Preocupa-se apenas com seus impostos e a tarefa de cobrá-los regularmente, sem compaixão, dó nem piedade. E enquanto milhões e mais milhões se beneficiam de políticas assistencialistas e eleitoreiras que empurram o país para a dependência e a falta de produtividade, o empreendedor que procurar ajuda para desenvolver seu projeto não encontrará um centavo sequer a fundo perdido – ou terá que se dispor a via sacras intermináveis e desestimulantes para acessar alguma migalha disponibilizada por edital, e que geralmente ainda exige  contrapartida financeira por parte do interessado.


Não por acaso, o Brasil está onde está quando o assunto é protagonismo internacional. O pouco que ainda jogamos é por causa da carne, da soja, do minério e do petróleo. Se dependêssemos da nossa indústria e do nosso mercado de inovação, já não estaríamos mais nem no banco de reservas.


Por sorte, esta realidade parece querer pelo menos começar a mudar, com algumas iniciativas que, se forem aprofundadas, poderão dar ótimos resultados.


Mesmo assim, se o país não fizer reformas profundas  nos sistemas fiscal e administrativo, seguirá sufocando e, não raramente, matando quem tenta empreender e inovar. 


 




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