Análise em Foco > Personalidade
ENTRE UMA OPINIÃO E OUTRA, QUE PREVALEÇA O BOM SENSO E A DEMOCRACIA
Sexta-Feira, 04 de Dezembro de 2015

OPINIÃO DO ANÃLISE

O Brasil de repente se vê diante de um dilema: derrubar ou não derrubar Dilma Rousseff? De um lado, parte da sociedade (incluindo os sistemas produtivo e financeiro) dá sinais de que a saída da presidenta poderia
restabelecer-lhe o ânimo e a disposição de investir – pelo menos é o que se pode perceber a partir do comportamento de indicadores como o dólar e a bolsa. O primeiro começou a cair depois do anúncio da abertura do processo de impeachment, a segunda iniciou uma escalada, impulsionada inclusive pelos papéis da Petrobras.

Do outro lado está outra parte da sociedade, que ainda acredita no
governo, no PT e em seu projeto de poder. Para esta parcela dos brasileiros, a
tentativa de levar o processo de impeachment adiante seria um golpe de uma
parte da elite brasileira, interessada em voltar ao poder à força. Deste lado da
trincheira, algumas forças mais proeminentes e ameaçadoras, como o “Exército do
Stédile
â€, que estaria disposto a ir às ruas para evitar o “golpeâ€.

Pois bem, é importante ressaltar que, em um regime democrático
maduro, como parece ser o brasileiro, ambas as correntes de pensamento e
opinião são legítimas, toleráveis e até saudáveis para o equilíbrio
institucional
. Afinal, hegemonias muito amplas de pensamento costumam ser solo fértil
para arroubos totalitários, e isso é o que menos interessa ao país. Sendo
assim, é primordial que estes dois pólos do circuito ideológico nacional se
respeitem, se tolerem e se aceitem. Ambos são essenciais para o debate, de
forma que nenhum deles deve apelar para a ruptura ou o golpismo. Ou qualquer
outra atitude nociva para a recém consolidada democracia brasileira.   

Reformas

Aos que enxergam no impeachment a solução para todos os problemas
do país, vale observar que o impedimento de Dilma não servirá para redimir a
nação de nossos os seus pecados e lançá-la no caminho da boa aventurança. É
preciso muito mais que isso. É preciso reformas profundas dos sistemas
administrativo, político e fiscal. Sem isso, podemos derrubar um presidente
a cada duas décadas e não resolveremos nossos problemas. Sem transformações de
paradigma e gestão, jamais engataremos a marcha do desenvolvimento sustentável
e duradouro.

Já aqueles que acusam o movimento pró-impeachment de “golpistaâ€
precisam entender que ele está longe de ser uma iniciativa só da “elite†e da
direita. Converse com meia dúzia de pessoas na padaria, na fila do banco ou no
salão de beleza
que você notará que os defensores do impeachment permeiam
estratos bem menos “elitistas†e “direitistas†da sociedade. Tem gente que defende a queda
de Dilma, de forma até irracional, simplesmente porque não aguenta mais ver seus esforços escorrendo pelo
ralo em um sistema de gestão ineficiente, corrupto e perdulário.

Culatra

Também cabe ressaltar que esta “elite†à qual alguns segmentos da
sociedade se referem muito se beneficiou das políticas de gestão que levaram o
país à atual situação – vide os Eike Batista e outros magnatas de setores como
o energético, o industrial e o financeiro (não é à toa que os ex-chefes do
ministro Joaquim Levy, por exemplo, querem mante-lo no cargo a qualquer custo
).
Foi a mesma elite que supostamente estaria querendo derrubar Dilma, portanto, que ajudou a colocar o PT no poder. Se o tiro agora ameaça sair pela culatra, não é
culpa dos brasileiros que estão descontentes com a situação e defendem o
impedimento
da presidenta como alternativa.  

Outro argumento de consistência questionável é o de que o
impeachment seria inaceitável porque Fernando Henrique Cardoso também teria
recorrido às pedaladas fiscais enquanto esteve no Planalto. Ora, esta é uma
ótica condenável porque pressupõe a impossibilidade de se punir desvios de
gestão outrora já cometidos. Se for assim, a Justiça teria que soltar todos os
mensaleiros
e petroleiros que condenou e colocou na cadeia, afinal, no passado
crimes do colarinho branco eram cometidos sem que os responsáveis fossem
punidos. Se a lei e o Judiciário hoje funcionam e punem os corruptos, temos que
comemorar, e não lamentar. Se FHC errou e não foi punido, lamentemos, mas não podemos
tolerar que, em função disso, a Lei de Responsabilidade Fiscal siga sendo
desrespeitada. Senão, para que serve ela?

Discernimento

Neste cenário, é preciso que se tenha todo o bom senso e o discernimento
necessários para corrigir os rumos do país. Do contrário, corre-se o risco de
vê-lo aproximar-se cada vez mais do abismo, ao invés de se afastar dele. Muito
juízo, portanto, para os senhores e senhoras que decidirão o futuro do Brasil e
para as correntes sociais que farão pressão sobre eles. Precisamos buscar o que
é melhor para a nação, não para A, B ou C.




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