O espetáculo da tocha olÃmpica, que nesta semana peregrinou por Santa Catarina, enseja uma abordagem negativa, considerada a situação de penúria pela qual passa o paÃs, e outra positiva, considerado o potencial da nação, que poderia dar exemplo de desenvolvimento se resolvesse os problemas sobre os quais agora se joga tanta luz.
No primeiro plano, evidentemente, o que se destaca é o fato de se ter uma OlimpÃada em um paÃs que mal consegue dar segurança, saúde, educação e infraestrutura para seu povo. Principalmente nas grandes cidades brasileiras – como o Rio de Janeiro, sede do evento olÃmpico –, onde a sensação que se tem é de que o paÃs está andando para trás e não para frente. Como uma espécie de metáfora social, a realidade dos grandes centros é o mais perfeito exemplo da contradição que hoje paralisa o Brasil: mesmo com uma máquina pública inchada e perdulária, devoradora de recursos da nação, o Estado está ausente onde mais deveria estar presente.
O desabafo do prefeito carioca Eduardo Paes, ecoado pelo mundo nos últimos dias, é outra metáfora social bem acabada da verve contraditória que move a gestão pública no Brasil: enquanto os problemas estavam debaixo do tapete (ou no escuro do beco), o falastrão do RJ regozijava-se do feito protagonizado por sua cidade, mas, agora que a sujeira apareceu, ele vem a público para reconhecer que foi um erro sediar a OlimpÃada, pela quantidade de coisas mal resolvidas que sua cidade, seu estado e seu paÃs ainda tem para administrar.
Pois ele deveria ter tido o bom senso de fazer este reconhecimento em outubro de 2009, quando a cidade do Rio de Janeiro foi escolhida sede da OlimpÃada. À época, contudo, preferiu viajar a Copenhague para se refestelar ao lado de Lula, Pelé e outros membros da comissão brasileira que viajou à Dinamarca para receber a memorável notÃcia. Todos deviam saber muito bem dos riscos que o paÃs estaria correndo ao se submeter a tamanha exposição. O agora aparentemente arrependido Eduardo Paes, no entanto, naquele momento deve ter se preocupado mais com a reeleição em 2012 do que com os desafios que teria pela frente.
Inspiração
Mas que pelo menos a sinceridade do prefeito do Rio de Janeiro (ele tem neste atributo uma virtude, aliás) sirva de inspiração a demais instâncias da sociedade e da esfera pública. Que os holofotes do maior evento esportivo do mundo sirvam para percebermos a quantidade de desafios que ainda temos para vencer; para enxergarmos que só a prática de polÃticas de Estado assistencialistas e a indução de crescimento através de gasto público não são suficientes para gerar desenvolvimento; que a troca de A por B ou C por D no comando da nação não é suficiente para desenvolvê-la; que é preciso mudar de paradigma, adotar novos modelos, reformar a gestão pública no paÃs.
Se for para produzir este efeito, que a OlimpÃada seja bem vinda. Afinal, todo erro também traz consigo uma grande contradição, ou paradoxo: de um lado provoca danos, do outro abre possibilidades de aprendizado e evolução. O clima de auto-avaliação nacional desencadeado pela Rio 2016, portanto, pode abrir caminhos para o paÃs evoluir.
É preciso tomar cuidado, contudo, pois os mesmos erros estão sendo cometidos pelo Brasil há muito tempo. Daqui a pouco o prazo para corrigi-los pode terminar. Que a luz da tocha olÃmpica possa iluminar nosso caminho e nos ajudar a perceber onde estão nossos maiores desafios. Se conseguirmos vencê-los, a OlimpÃada já terá deixado um grande legado ao paÃs.