Análise em Foco > Personalidade
EBULIÇÃO ELEITORAL AQUECE AMBIENTE POLÃTICO EM BLUMENAU
Quinta-Feira, 20 de Outubro de 2016

A temperatura esquentou bastante no segundo turno em Blumenau. Desde que avançou para a segunda etapa da disputa eleitoral, o candidato de oposição, Jean Kuhlmann (PSD), partiu para cima do prefeito Napoleão Bernardes (PSDB), candidato a reeleição, com a faca nos dentes. Promovendo uma série de ataques em todas as frentes de propaganda, Kuhlmann assumiu posição diametralmente oposta no ringue, lançando ofensiva sem trégua e tentando manter Bernardes nas cordas o maior tempo possível.


Macacos velhos do xadrez eleitoral, tanto Kuhlmann quanto seus assessores e estrategistas mais próximos sabem que este é o jogo a ser jogado se quiserem vencer a eleição. Como Bernardes partiu com uma vantagem de 17 mil votos, obtida no primeiro turno, os social-democráticos sabem muito bem que precisarão jogar pedra no telhado do vizinho se quiserem provocar alguma goteira mais forte na residência dele. Se quiserem fazer com que a inquilino atual deixe o imóvel, terão que desgastá-lo ao ponto de enfraquecê-lo. Se apelarem para a postura amigável, conseguirão no máximo dividir a casa com ele.    


Como os dois não se bicam, segundo reconhecem fontes próximas a ambos, a chance de uma convivência pacífica entre eles seria mínima – com João Paulo Kleinübing, sumo sacerdote do PSD de Blumenau, Bernardes até que se entende melhor, dizem, mas, com o principal adversário político na cidade o grau de miscigenação é de zero para negativo. Não dá nem para fingir empatia. Acreditar, portanto, que este segundo turno pudesse transcorrer em clima de paz e harmonia entre Bernardes e Kuhlmann seria acreditar no improvável.


Perto da eleição norte-americana, contudo, a eleição blumenauense até parece um chá de comadres. Poupando a esfera pessoal e evitando a linha da cintura, os candidatos têm mantido golpes e contra-golpes em um nível tolerável de intensidade. Se estão restritos ao campo da ética e da moral é outra história, pois falamos de política, então é sempre bom relativizar estes conceitos. Mas pelo menos ainda não inseriram o campo da baixaria na campanha. Se os cases apresentados são verossímeis, se os números expressam a realidade ou se as promessas serão cumpridas é uma questão a ser avaliada tanto pelo eleitor quanto pela Justiça Eleitoral, mas, enquanto estiverem evitando os ataques pessoais, os candidatos estarão atingindo pelo menos a média.


Trunfos e estratégias


Se a estratégia de ataque explícito da oposição dará certo ou não é coisa que só se saberá no próximo dia 30 lá pelas 21h. Sem pesquisas eleitorais que possam dar uma ideia do cenário em curso, só se poderá saber quem levou a melhor após a apuração dos votos. Se o candidato do ataque ou o da defensiva.


Os tucanos, percebendo a dureza da parada, convocaram até o governador de São Paulo e virtual presidenciável, Geraldo Alckmin (PSDB), que virá a Blumenau pedir voto para Napoleão Bernardes. Também providenciaram algumas respostas a ataques do adversário – iniciativa que pode gerar efeitos contraditórios, no entanto, pois atende justamente a um dos objetivos da ofensiva, que é fazê-los perder tempo e sofrer desgaste com respostas e explicações. Afinal, quem precisa dar muita resposta e explicação, é porque tem algo a explicar – pelo menos na ótica inconsciente de muitos eleitores.


Já os social-democráticos correm justamente o risco de saturar o eleitor com a ofensiva pesada. Se por um lado ela pode provocar estragos no telhado do concorrente, por outro pode causar danos às próprias telhas. Equação para lá de difícil a ser ajeitada pelos estrategistas do PSD. Como reforço de campanha, Jean Kuhlmann também tem um governador a seu lado, e com um pacote eleitoral robusto: as obras já concluídas ou em curso que o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD), vem ajudando Blumenau a viabilizar.  


É o duelo de titãs que nós previmos e que agora vai se desenrolando na cidade, com muita emoção e um final absolutamente imprevisível. Conseguirá Kuhlmann levar Bernardes à lona com sua estratégia de ataque? Conseguirá o tucano sair na esquiva e levar a luta até o final para vencê-la por pontos? Nos próximos 10 dias, esta luta tem tudo para ficar ainda mais dura e emocionante.


Ladainha


Mas trocando de assunto e mudando de mala para saco, os candidatos bem que poderiam poupar os eleitores mais críticos, e Blumenau é cheia deles, da cansativa ladainha das ruas pavimentadas ou não pavimentadas. Discutem sobre quem calçou e quem vai calçar mais ruas, apresentando-se como gestores menos ou mais qualificados de pavimentação.


Ora, senhores, todos nós sabemos que não há um centavo sequer do dinheiro utilizado em uma pavimentação que não seja do próprio cidadão. Uma parte ele tira do bolso para investir diretamente na obra, quando o pavimento é feito em sistema de mutirão, outra para pagar os impostos com os quais o poder público executa obras. Os prefeitos e candidatos a prefeito, que adoram estufar o peito para dizer que asfaltaram ou vão asfaltar essa ou aquela rua, não colocam um centavo do dinheiro deles ali, então não deveriam reivindicar autoria desta ou daquela pavimentação. Não deveriam reivindicar autoria de nada, aliás, pois toda obra pública é feita com o dinheiro do povo, do contribuinte, do trabalhador.


Prefeitos e candidatos a prefeito deveriam dar mais ênfase a métodos de gestão, a políticas públicas, a alternativas de exercício do poder que possam tornar a máquina pública mais enxuta, mais eficiente e mais adaptada aos tempos da nova economia e da nova organização social promovidas pela tecnologia e pelas transformações sócio-econômicas pelas quais passa o mundo hoje. Sobre isso, contudo, tem-se visto muito pouco na campanha eleitoral, infelizmente.




+ Notícias
Todos os direitos reservados © Copyright 2009 - Política de privacidade - A opinião dos colunistas não reflete a opinião do portal