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REFORMA DO ENSINO PRECISA COMEÇAR PELO FUNDAMENTAL
Sexta-Feira, 30 de Junho de 2017

O secretário de Educação de Santa Catarina, Eduardo Deschamps, participou na manhã da última quinta-feira de um debate intitulado De Olho no Ensino Médio: Desafios e Oportunidades, durante o 1° Congresso de Jornalismo de Educação, em São Paulo. A discussão também teve a participação da secretária de Educação de Minas Gerais, Macaé Evaristo, e do professor Chico Soares, da Universidade de Federal de Minas Gerais.

O ensino médio brasileiro começou a ser debatido em maior profundidade a partir de 2012, com base em indicadores que mostraram uma situação preocupante nesta etapa tão importante da vida educacional do país. No ano passado, no início da gestão do (ainda) presidente Michel Temer, o Executivo propôs e o Legislativo aprovou uma série de mudanças na grade curricular e na metodologia do ensino médio, com o objetivo de alinhá-lo à realidade do mercado e dos estudantes.

– Muitos estudantes não chegam ao ensino médio. Dos que chegam, muitos não ficam. Dos que ficam, muitos não aprendem. Dos que aprendem, o conteúdo não é suficiente ou não tem muita utilidade - analisou Soares.

Reforma

Para Deschamps, não se deve perder a oportunidade de mudar esta realidade.

– O ensino médio atual forma o aluno para ir para universidade. A lei do ensino médio permite soltar essas amarras, pois 80% dos que concluem esta etapa não vão para universidade imediatamente. O foco principal é trabalhar com quem evade e não aprende.

A nova lei, contudo, não é auto-aplicável, destaca ele, observando que o caminho a ser percorrido ainda é longo.

– A lei abre oportunidades, mas não responde muitas perguntas. Diz como pode ser feito, mas não como deve ser feito. Não dá para implementar agora a flexibilização. Não existe norma específica para isso neste momento – explica.

Alguns passos a se seguir, de acordo com Deschamps, são: discutir a base curricular comum do ensino médio, as diretrizes curriculares, a regulamentação por meio dos sistemas educacionais, a formação dos professores e a forma de contratação dos mesmos.

Durante os dois dias do encontro de São Paulo, profissionais que tratam da educação nos veículos de comunicação do país participaram de debates, plenárias e oficinas práticas sobre os desafios da cobertura de educação no Brasil.

Ensino fundamental

O debate em torno do ensino médio é importante, e deve de fato reunir autoridades, especialistas, professores, estudantes e profissionais de comunicação. Fará um bem enorme ao país se for levado a sério e produzir alternativas de avanço no setor, indispensáveis para que o Brasil retome o caminho do desenvolvimento.

É imperioso destacar, contudo, que nenhuma estratégia vai surtir efeitos suficientemente satisfatórios se a revolução do ensino não começar pelo fundamental. Até se pode melhorar a qualidade do ensino médio a partir de mudanças pontuais, mas sem uma transformação profunda de todo o modelo educacional brasileiro não se levará o país a onde se deseja levá-lo em termos de desenvolvimento.

Ensinar às crianças números romanos e decorebas históricas ou geográficas, como ainda se faz nas escolas, através de reprodução manual em cadernos, sem nenhuma interatividade com o mundo virtual, já não faz muito sentido em um mundo que se transforma a cada dia e relega ao analógico um espaço cada vez menor na vida das pessoas. As crianças estão usando smartfones e tablets em casa antes de usarem computadores nas escolas, há algo de incongruente nisso.

Enquanto isso noções básicas de programação, que é o substrato do presente e do futuro, ainda são inexistentes na grade das escolas. Língua estrangeira só no final do ensino fundamental. Matemática e Língua Portuguesa é a dificuldade de sempre.

Estímulo

Se os alunos das séries iniciais não tiverem um primeiro contato mais estimulante e desafiador com a educação, não haverá reforma do ensino médio que dê jeito de resolver o problema da má formação no país. E má formação em todos os sentidos: pedagógico, técnico e social, afinal a escolas não estão cumprindo satisfatoriamente seu papel de formar cidadãos mais conscientes. As crianças de hoje precisam ser os adultos que amanhã vão dizer não à corrupção, separar o lixo reciclável em casa e manter hábitos mais sustentáveis, por exemplo. E este é assunto ao qual a escola não tem dado a devida atenção, há que se reconhecer.

Assim, para fazer com que os estudantes brasileiros cheguem ao ensino médio com menor propensão a abandonar a escola e dar ao Brasil níveis vergonhosos de evasão escolar, é preciso incutir-lhes apreço pelo saber desde cedo. É preciso fazer com que tenham prazer em ir para a escola, e não um sentimento de penitência. Coisa que só poderá ser alcançada com investimento e, sobretudo, mudança de postura na gestão deste que é o mais importante pilar de uma nação. Sem educação não há desenvolvimento.

Envolvimento

Mas as famílias também não estão fazendo sua parte como deveriam. Não estão dando à educação dos filhos a prioridade que ela precisa e merece. Quantas vezes você já sentou com seu filho para checar as tarefas e atividades escolares, para fazer simulados em casa e testar o quanto ele aprendeu, para perguntar como é o professor, para ir às reuniões da escola, para prestigiar os eventos festivos, para ajudar na gincana de donativos, para perguntar ao diretor o que está faltando na escola? E na entrega do boletim, você comparece? Conversa com o professor para saber como está o desempenho de seu filho? Na feijoada e na pastelada de arrecadação, você já deu uma força? Já ficou no caixa, já ajudou na cozinha?

Muita gente vai passar neste teste de consciência, mas uma ampla parcela das pessoas, infelizmente, não.

– Outro dia fizemos uma reunião na escola para reformar o piso e o telhado, que estavam em péssima condição. Queríamos discutir as opções, os valores, as vantagens e desvantagens de cada opção, enfim, o custo benefício da obra. Um único pai compareceu – relata o secretário de Desenvolvimento Regional de Blumenau, Emerson Antunes, responsável pelas escolas estaduais na região.

Sintoma

Pois há algo de muito errado nisso. É tão sintomático quanto intimidador, pois demonstra uma falta de interesse assombrosa da sociedade por aquele que deveria ser o tema mais importante na vida de todos os cidadãos, aquele a ser tratado pela família no café da manhã, no almoço e no jantar: educação. Pense nisso.

Com informações da Secretaria de Comunicação de SC




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