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CADA MORTE NO TRÂNSITO CUSTA R$ 475 MIL PARA O CONTRIBUINTE
Sábado, 17 de Abril de 2010

Sabe-se que campanhas de mídia elaboradas pelo poder público, não raras vezes, têm como principal objetivo agraciar veículos de comunicação com verbas polpudas e adoçar a opinião pública com a divulgação de ações da esfera estatal. Nem sempre cumprem o propósito da conscientização, que deve ser o aspecto mais positivo da propaganda pública.


Neste contexto, o Feirão do Carro Acidentado, que expõe ao público veículos destruídos em acidentes fatais, cumpre seu papel mais importante, além dos demais. Quem costuma pisar com mais força no acelerador, sai dali pensando um pouco mais nos riscos que está correndo. Acaba tendo a consciência, de fato, tocada.


Aberta na manhã deste sábado (17), a campanha do Serviço Autônomo Municipal de Trânsito e Transportes de Blumenau (Seterb) leva para o Parque Ramiro Ruediger um amontoado de ferro retorcido, em meio ao qual muitas vidas se perderam. A maioria por imprudência ou irresponsabilidade. Todas envolvendo excesso de velocidade.


O servente José Anacleto, 47 anos, ia para o trabalho, em outubro de 2005, como fazia todas as manhãs: de bicicleta, pela Rua das Missões. De repente, quando foi atravessar o asfalto, sentiu a forte pancada que o deixou com duas vértebras quebradas e as pernas paralisadas até hoje.


Ele e outros cadeirantes, que perderam os movimentos em acidentes de trânsito, estão no Feirão do Carro Acidentado, contando suas experiências para quem queira ouvir.


Anacleto reconhece sua parte da culpa no acidente, mas lamenta o excesso de velocidade do automóvel que o atingiu:


- Também errei, reconheço, mas o fato é que fui jogado a oito metros de onde estava.


Anacleto hoje recebe do INSS os R$ 1,3 mil que recebia trabalhando na Apae, até o dia do acidente. Do DPVAT, recebeu R$ 9 mil. A mulher, contudo, precisou deixar o emprego para cuidar dele em casa, parando de contribuir para a previdência e trazendo transtornos para a empresa onde trabalhava.


Por isso, somando, dividindo e multiplicando, cada morte no trânsito custa aos cofres públicos e ao país R$ 475 mil, conforme cálculo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).


É muito dinheiro. Somente em Blumenau, foram R$ 16,2 milhões consumidos pela indústria da morte no trânsito, em 2009, quando 35 pessoas perderam a vida nas ruas da cidade. São recursos que poderiam ser investidos na conservação, expansão e melhoria da malha viária, por exemplo.


Por isso é importante, sim, conscientizar as pessoas sobre a necessidade de se ter mais cautela ao volante. A maioria dos acidentes é causada por imprudência, e poderia ser evitada com um pouco mais de paciência e respeito por parte dos motoristas.


Mas não basta conscientizar, infelizmente. É preciso punir e fiscalizar os responsáveis pela barbárie do trânsito. E, neste aspecto, a ação das autoridades de trânsito ainda está aquém do desejado.


É preciso presença mais ostensiva nas ruas, tanto para coibir quanto para punir infratores.


A correta manutenção da malha viária, com sinalização adequada e manutenção frequente, também ajuda.


E são investimentos que valem a pena, considerando os prejuízos que a matança motorizada traz para a sociedade.


 




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