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GASTRONOMIA PODE ASSUMIR NOVO PAPEL NA ECOMOMIA BLUMENAUENSE
Quarta-Feira, 21 de Abril de 2010

Após longo período de ostracismo, a gastronomia de Blumenau hoje vive dias de efervescência. Nos últimos três anos, a cidade viu abrirem as portas estabelecimentos como Moinho do Vale, El Burrito, Choperia Expresso, Santa Efigênia, The Basement Pub e, mais recentemente, Pepper Jack. Outros, já tradicionais ou mais antigos, como Frohsinn, Gruta Azul, Di Mantova e Figueira, por exemplo, voltaram a investir e ampliar sua carta. Fora aqueles que, por descuido ou desconenhecimento, tenha-se eventualmente deixado de fora da lista supra citada.


O Pepper Jack foi o último a abrir portas ao público, há 15 dias, e está fazendo seus proprietários – Caio Fontenelle e Vinicius Bressiani – rirem à toa. Os 150 lugares da casa têm sido ocupados com pouquíssima ou quase nenhuma ociosidade, e, dependendo do horário e do dia, já é preciso aguardar para conseguir mesa e apreciar a culinária inspirada em ambientes gastronômicos do interior norteamericano.


Mesma coisa acontece no The Basement Pub, de Juliano Mendes, que, depois de bancar o alquimista e transformar cerveja em ouro vendendo a Eiseibahn para a Schincariol, montou na cidade o pub inglês que trouxe música, cardápio e bebidas de temática europeia. Mendes mudou de ramo mas não mudou de sina: ganhar dinheiro. A casa vive cheia e, dependendo do horário, tem fila de espera.


Bressiani, Fontenelle e Mendes são empresários de um setor que está crescendo e ainda tem muito para crescer em Blumenau e região. Observando-se o momento, talvez não seja exagero vislumbrar a gastronomia com um novo e diferenciado papel na economia blumenauense. Investimentos estão em curso – só o Pepper Jack, o último a se instalar na cidade, recebeu algumas centenas de milhares de reais –, empregos estão sendo gerados e uma cadeia produtiva apurada está se estruturando.


Um restaurante, observa Fontenelle, tem estrutura organizacional complexa. Envolve transformação de matéria-prima, prestação de serviço e comércio de produtos. Ou seja, enquadra-se em qualquer um dos três principais setores da economia regional: indústria, serviços e comércio.


Para viabilizar comercialmente uma iniciativa como esta é preciso muita organização, planejamento e controle. Principalmente na parte logística. Afinal, fazer com que legumes, frutas, cereais, carnes e bebidas entrem por um lado e cheguem devidamente processados ao outro, para encontrar clientes ansiosos e famintos, passando pela mão de garçons acelerados, é um desafio que não perdoa erros.


– Trabalhamos com um produto cuja avaliação ocorre simultaneamente ao preparo. Se o consumidor não gostar do prato ou da bebida entregues a ele, o problema irá surgir na hora – ressalta o proprietário do Pepper Jack.


NIVEL DE ORGANIZAÇÃO DO SETOR PODE DAR A ELE NOVO PAPEL NA ECONOMIA


Por isso o nível de organização gastronômica que Blumenau começa a galgar permite imaginar o setor com um papel muito mais relevante e significativo na economia da cidade.


_ Já recebemos muitos clientes que vêem de outros municípios da região – salienta Mendes.


Este mapeamento da clientela, explica ele, é feito através de uma ficha preenchida pelos frequentadores do The Basement Pub.


O Pepper Jack, por sua vez, começa a estruturar sua gestão administrativa de olho na possibilidade de expandir o negócio e abrir filiais em outras cidades.


No caminho deste crescimento, os empresários do setor encontram, simultaneamente, estímulos e obstáculos. A demanda reprimida por estabelecimentos diferenciados é a principal aliada.


O blumenauense e a população vizinha ainda teriam poucas opções de uma gastronomia mais elaborada, o que permite pressupor a existência de espaço para novos empreendimentos e o crescimento dos atuais.


Já a predisposição de blumenauenses a privilegiar preços mais baixos e a falta de mão-de-obra qualificada são obstáculos vultuosos no caminho de quem quer investir em gastronomia.


– O blumenauense quer qualidade com preço baixo, e isso nem sempre é possível. Atendimento e produtos diferenciados exigem preço também diferenciado, e isso ainda é de difícil compreensão por aqui – observa Mendes.


Já a qualificação da mão-se-obra é um problema que a própria demanda por profissionais pode ajudar a resolver, avaliam os empresários. Afinal, um garçom de estabelecimentos como os que estão abrindo em Blumenau pode ganhar mais de R$ 2 mil por mês, dependendo do movimento, um salário pouco comum em funções da indústria tradicional, por exemplo.


Isso poderia levar profissionais de outras áreas a se interessar por profissões ligadas à gastronomia, estimulando uma corrida pela qualificação necessária.


– A partir do momento em que houver mais demanda por profissionais, o que já está acontecendo, haverá também procura por ocupação no setor, que paga bem mas exige qualificação. É um movimento que o próprio mercado regula – raciocina Fontenelle.


POSTURA DE CONSUMIDORES E TRABALHADORES SERÃ DECISIVA PARA FUTURO DO SETOR


Com tantas variáveis em jogo, ficam evidentes as potencialidades do setor. Predisposição para investir existe, e a questão, neste momento, parece estar mais na postura do consumidor e do trabalhador do que no apetite dos empresários. Estes estão famintos, e com dinheiro no bolso. No que depender deles, haverá mais investimentos.


Mas é preciso que o consumidor saia de casa e coloque a mão no bolso com menos receio e dor, avaliam  empresários. Assim como os trabalhadores devem procurar o banco da escola com mais empenho e convicção.


Se houver a devida combinação destes ingredientes, quem sabe Blumenau não assuma de uma vez o papel de Gramado catarinense, que lhe é reivindicado por muitos mas que, com deficiências crônicas dos equipamentos turísticos, principalmente o gastronômico e o hoteleiro, a cidade ainda não pode assumir.


Afinal, quando se trata de referência gastronômica, a congênere gaúcha será sempre exemplo a ser seguido. Comparação entre as duas cidades, boas e ruins, não faltam. E Blumenau pode se espelhar na vizinha da serra riograndense, que não vai se arrepender.




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