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CRITÉRIOS TÉCNICOS DEVEM PREVALECER SOBRE CONVICÇÕES SUBJETIVAS OU IDEOLÓGICAS
Quarta-Feira, 09 de Junho de 2010

Bastante por opção e muito por dever, o Análise em Foco publica este editorial. Ante o discurso predominantemente preservacionista que se tem observado até o momento, em relação ao debate em torno do corte de árvores na Avenida Beira Rio, faz-se necessário buscar um argumento que possa servir de contra-ponto, para garantir a estas discussões a devida pluralidade ideológica e diversidade de opiniões.


A preocupação de entidades de proteção ambiental e do Ministério Público com as espécimes da flora que habitam a tradicional avenida de Blumenau é pertinente, sem dúvida alguma. É também necessária e bem vinda, faz parte da democracia.


É preciso questionar, todavia, alguns aspectos. Por exemplo: se novas árvores, a serem plantadas, estarão grandes e frondosas em 20 anos, por que não se pode, então, substituir as atuais? Se isso permitiria maior facilidade para a execução do projeto de reurbanização da avenida, por que não se pode tolerar a derrubada e o replantio? Pois não se deve pensar em apenas uma ou duas gerações, mas em três, quatro, cinco ou até mais.


Há que se ter bom senso, sempre, até mesmo no trato das questões ligadas à preservação ambiental. Afinal, impera observar que devem ser preservadas, isto sim, as reservas naturais de mata nativa, sejam remanescentes ou áreas recuperadas. Ãrvores plantadas em processos já executados de urbanização da cidade também merecem cuidado e zelo, evidentemente, mas pertencem a outro campo de avaliação. E os exemplares em questão, muito provavelmente, foram colocados ali durante a construção da Beira Rio, não sendo, portanto, remanescentes da cobertura original.


Concomitantemente, tem-se o fato de que agressões à flora e à fauna de reservas legais e constituídas, em todo o Vale do Itajaí, vêm agredindo o meio ambiente com voracidade e prejuízos bem maiores que eventual derrubada de espécimes não originais em região central da cidade. São eventos que demandam atitudes igualmente ousadas e bem articuladas de entidades e indivíduos ligados à causa preservacionista, o que nem sempre acontece.


Tome-se o exemplo da extração ilegal de palmito e a caça predatória em toda a mata atlântica, que leva espécies à beira da extinção. São ocorrências que deveriam estar mais insistentemente presentes no discurso e nas ações de organizações, pessoas e, vale o mea culpa, veículos de comunicação.


Há que se levantar, ainda, mais um aspecto: se as árvores que estão na Beira Rio, plantadas anos atrás, hoje são parte da história da cidade, por que, então, estas que seriam plantadas agora, em nova fase da reurbanização blumenauense, não poderiam passar a ser também?


Há que se relativizar, sempre, todo e qualquer discurso, sempre com o objetivo de ampliar o espectro da abordagem e favorecer o enfoque democrático. É o que pretendemos com este editorial, que cumpre nossa principal missão: interpretar a notícia e oferecer a você, leitor, possibilidades múltiplas de interpretação dos fatos.


Portanto, se for encontrada uma saída para que se possa reurbanizar a Beira Rio mantendo as árvores em pé, que assim seja feito. Mas a análise de uma possível derrubada, neste caso, precisa ser feita sem paixões, apenas com critérios técnicos.


Até porque não se pode esquecer também a seguinte indagação: caso se reurbanize a Beira Rio mantendo as árvores atuais em pé, não corre-se o risco de vê-las definhar em breve, tal qual a Figueira e o Tamarindo, que sucumbiram ao tempo e transformaram-se em monumentos sem vida? A substituição de cada exemplar da Beira Rio, à medida em que o tempo os for vencendo, não seria ainda mais trabalhosa e danosa para o Centro da cidade?


O fato indiscutível é que a Beira Rio merece e precisa ser reurbanizada. A parte em que as obras já foram executadas encanta turistas e blumenauenses. É um projeto arquitetônico interessante, e merece ser estendido a todo aquele logradouro. Que as discussões e polêmicas em torno da obra não a comprometam. Há que se ter bom senso, discernimento e isenção nesta hora. Paixões, neste momento, não são bem vindas.


 




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