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AOS 160 ANOS, BLUMENAU SE PERGUNTA: CIDADE TEM VOCAÇÃO PARA FUTEBOL?
Sábado, 21 de Agosto de 2010

Blumenau chega aos 160 anos com 300 mil habitantes e uma pergunta: a cidade tem vocação para o futebol? Por que, afinal, a maior paixão do brasileiro não emplaca, não deslancha em Blumenau? Essa enigmática, intrigante e permanente pergunta, há muito, divide opiniões na cidade.


Retomo o assunto porque li na imprensa local recentemente que a direção do Metropolitano está preocupada com a baixa média de público nos jogos do clube pelo Campeonato Brasileiro da série D.


Não chega a atingir dois mil torcedores por jogo, apesar da boa fase do time comandado por Mauro Ovelha. De acordo com dados fornecidos pela diretoria, a média de público é de 1.800 pessoas por partida. E essa baixa presença do torcedor gera prejuízo. Os dirigentes reclamam do valor do aluguel do Estádio – R$ 6.500,00 por jogo – das despesas com arbitragem, taxas, etc. A choradeira de sempre.


O blumenauense não gosta mais de futebol? Essa seria a explicação para o desinteresse do público pelos jogos do Metrô?


O problema não é esse. Nós somos apaixonados por futebol, sim. E Deus sabe o quanto já sofremos e o que já fizemos pelos clubes da cidade.


Para entendermos a falta de torcida no Sesi, temos que analisar alguns fatores determinantes. Vamos a eles:


1) O preço do ingresso praticado pela diretoria do Metropolitano, sinceramente, é pra afastar o público, mesmo. Os valores cobrados são semelhantes aos dos jogos da Série A do Brasileiro. Uma cadeira Vip – central – por R$ 50,00 e a cadeira lateral por R$ 30,00. Para jogos da série D, são preços “salgadosâ€, e, se os compararmos ao custo de um jogo no Maracanã, ou Pacaembu, eles estão fora da realidade local.


A direção do Metrô alega que a capacidade reduzida no Sesi não permite que o clube reduza os preços dos ingressos.


2) Por outro lado, a torcida poderia pagar mais barato para assistir aos jogos da equipe se associando ao clube. Com R$ 35 por mês, por exemplo, o torcedor pode acompanhar os jogos das cadeiras laterais. Ainda assim, com a promoção, o CAM tem apenas cerca de 800 sócios. Deste total, metade está inadimplente.


Por que tão poucos sócios? O clube é novo, com menos uma década de vida, dizem alguns colegas. Outra hipótese: o time ainda não é vencedor, não ganhou um título de expressão.


Fez, é verdade, e justiça seja feita, algumas boas campanhas, tem se mantido na elite do futebol catarinense e os dirigentes possuem credibilidade, realizando um trabalho responsável, do ponto de vista financeiro, sem acumular dívidas significativas.


Ainda assim, pelo visto, não tem sido o suficiente para conquistar toda a torcida, que hoje, desconfiada, não encontra motivação para ir ao Sesi.


3) Já ouvi torcedores dizerem também que não rolou um encanto com o novo clube da cidade e que o Verdão não passa energia para a arquibancada. Depoimentos que me foram dados por gente que, em outros tempos, ia frequentemente ao Sesi e ao Aderbal (ex-estádio do Blumenau Esporte Clube).


E sabemos que, quando o cidadão é apaixonado mesmo, fanático, ele dá um jeito e vai aos jogos. Ou não?


4) As administrações do futebol blumenauense, que erraram demais no passado, também têm uma parcela de culpa no “cartórioâ€.


5) O nome do clube, com todo respeito, também não ajuda muito. A torcida grita Atlético, canta Metrô, Verdão, mas Metropolitano fica mais difícil. A sugestão do empresário Altair Carlos Pimpão, quando se discutia o nome para o clube, não foi muito feliz.


6) E, por fim, entendo que a proibição da venda de cerveja no estádio e arredores é outra causa para o afastamento de muitos torcedores, que preferem passar o domingo no conforto do seu lar, em companhia de algumas “geladasâ€, assistindo de graça, pela TV, aos jogos do Brasileirão.


METROPOLITANO PRECISA GANHAR TÃTULO PARA ENCANTAR TORCEDOR E ARREBATAR CORAÇÕES


Como, então, diante das dificuldades, que o Metropolitano pode superar esses obstáculos para aumentar sua legião de seguidores?


Precisa de resultados em campo. Precisa de títulos. Sem ser vencedor, não tem como crescer e conquistar novos admiradores. Tem que fazer por merecer. Tem que contagiar, tem de emocionar, conquistar o coração daqueles que ainda não são apaixonados pelo representante do município no futebol profissional. Uma conquista importante pode ser o que falta.


Além das vitórias em campo, uma medida que julgo ser fundamental é a  promoção de uma impactante campanha publicitária para fortalecer sua marca e, ao mesmo tempo, vender a ideia de que o time é do povo, que o Metropolitano é da cidade. Explorar as mídias disponíveis e mandar ver na massificação da marca.


Essa campanha deveria ser intensa, e teria que passar a mensagem de um clube simpático e mais popular.



Também acredito que seria importante o clube ir para todos os bairros da cidade, ocupar as periferias, marcar presença. Promover peneirões para a garotada. Ampliar o trabalho da base.


Oferecer mais oportunidades para os adolescentes que sonham em ser jogador de futebol. Esse trabalho, bem realizado, "não a meia boca" como tem sido feito, iria criar vínculos com as famílias blumenauenses, e se daria um passo importante nesta luta para aumentar a torcida.


Tem que, logicamente, haver investimento pesado nas categorias de base.


E também para realizar a campanha publicitária.


Como se consegue viabilizar estes projetos? Planejamento, criatividade e competência. O Metrô tem pessoas competentes e pode realizar as ações aqui mencionadas. Basta priorizar os projetos, fazer acontecer, e tomar as  decisão necessárias;


Onde o Metropolitano quer estar daqui a cinco anos? Qual o futuro do clube? Se não promover algumas ações de impacto, rever o planejamento, e dar um "gás de mobilização"  a direção vai permanecer por um bom tempo lamentando as dificuldades financeiras e o numero reduzido de torcedores no Sesi.


E convocar a imprensa para reclamar sobre a falta de torcida em dias de jogos do Metrô, convenhamos, não é a ação que falta e se espera dos gestores.


Sabemos da dificuldade que é captar recursos e fazer a coisa andar.


Mas com a economia favorável e bons projetos, é possível fazer mais e melhor.


Assim, o caminho para ter uma torcida numerosa, ficará mais curto.


Por Paulo César PC, colunista de Esportes do Análise em Foco.




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