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O REI CASOU A FILHA, E O POVO AINDA COMEMORA!
Domingo, 26 de Setembro de 2010

O próprio Dalto dos Reis, prefeito de Blumenau em 1984, admite que a criação da Oktoberfest, naquele ano, envolveu mais estratégias de marketing do que emoções do pós-enchente, conforme tanto se propagou – e ainda propaga. O mito de que a festa foi criada para restabelecer o ânimo dos blumenauenses, portanto, merece ressalvas.


– A ideia de se criar um grande evento da tradição germânica em Blumenau já tinha contornos bem definidos quando vieram as enchentes de 1983 e 1984. O que se concluiu, na época, é que aquele era o momento ideal para tirá-lo do papel, pois Blumenau estava na mídia nacional e, com isso, o evento também estaria – conta o ex-prefeito, em conversas reservadas.


E foi uma estratégia perfeita, um golpe de mestre. Hoje é a Oktoberfest que, todos os anos, coloca Blumenau na pauta de quase todo o Brasil. De praticamente todos os estados da federação, legiões e mais legiões de visitantes partem para a mais charmosa e pujante entre as representantes da colonização germânica no país. Poder-se-ia até dizer que a cidade se transforma, por alguns dias, em uma espécie de capital da cultura alemã nas Américas.


A origem da Oktoberfest alemã, que inspirou a criação da congênere blumenauense, está ligada à popularização de uma tradição restrita, até 1810, aos nobres da realeza.


Naquele ano, o rei decidiu fazer do casamento da filha uma festa aberta aos súditos, pela primeira vez, em séculos de monarquia. Convidou toda a população e, por dias seguidos, ofereceu cerveja e diversão ao povo. Gratuitamente. Para uns, benevolência; para outros, uma tentativa de melhorar a imagem da realeza, que não ia muito bem junto aos súditos, um tanto descontentes com o quadro social da Alemanha na época. 


O fato é que a iniciativa do rei deu tão certo que, nos 200 anos que se seguiriam, entre aquele momento e hoje, a festa não deixaria jamais de ser promovida, ganhando até “filiais†fora da Alemanha, entre as quais a de Blumenau é destacadamente a de maior projeção.


Coincidência ou não, a Alemanha voltaria, décadas depois, a novos ciclos de desenvolvimento, que a transformariam em uma das nações mais ricas do mundo. Suas colônias tornar-se-iam exemplo de desenvolvimento em diferentes cantos do Planeta, destacadamente no Brasil, em Santa Catarina e, de forma tão encantadora e fascinante, em Blumenau.


Por isso a Oktoberfest tem contornos que fazem dela a celebração de diferentes episódios históricos. Não é apenas a cura para a dor dos blumenauenses atingidos pelas cheias.


É a grande vitrine da capacidade de luta, superação e empreendedorismo de uma gente acostumada a vencer dificuldades, superar obstáculos e unir-se em torno de objetivos. Da mistura entre nobres e súditos à saga dos migrantes que atravessaram o oceano para chegar aqui e ensinar o Brasil a se desenvolver, os alemães tornaram-se um exemplo de conduta vitoriosa.


Por isso a Oktoberfest é o grande símbolo de uma sequência arrebatadora de fatos históricos.


Do congraçamento entre os nobres e os súditos, na Alemanha do século 19, à mistura de origens e camadas sociais que ocorre hoje na festa de Blumenau, a Oktoberfest tornou-se um célebre evento em dois continentes diferentes. A festa do rei virou a festa do povo, na Europa e na América. Aproveite, é só chegar, entre 7 e 24 de outubro. Blumenau já está de braços abertos, Ein Prosit!


LEGENDA DAS FOTOS (do alto para baixo)


1) Gravura de época reproduz cenário da festa oferecida pelo rei em 1810, e que deu origem à Oktoberfest da Alemanha e de Blumenau


2) Oktoberfest 2010 em Munique, na Alemanha


3) Oktoberfest 2009 em Blumenau, Santa Catarina




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