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É PRECISO PENSAR FIM DO ASSISTENCIALISMO NO BRASIL, ONDE 21,7% DOS ELEITORES DEPENDEM DO BOLSA FAMÃLIA
Segunda-Feira, 01 de Novembro de 2010

Passada a eleição, é momento de esquecer diferenças político-partidárias e pensar somente no Brasil. Afinal, a presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), será a governante de todos os brasileiros, inclusive daqueles que votaram em José Serra (PSDB).


E, nesta hora, não se pode desejar a ela outra coisa que não seja boa sorte. Que possa fazer um governo de êxitos, de reformas estruturais e de progresso. Que possa transformar o Brasil, definitivamente, no país do presente, do futuro que já chegou.


Neste futuro, que começou a virar presente, o que todos esperam e desejam é o crescimento econômico e social, que gera riquezas e as distribui entre a população. Um mecanismo que já está em andamento, em ritmo acelerado, desde 1994, quando Fernando Henrique Cardoso (PSDB) assumiu a presidência da República e iniciou um processo que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) consolidou. Há 16 anos, portanto, o país amadurece institucional e economicamente, liderado por tucanos e petistas.


Um amadurecimento reconhecido pelo povo brasileiro, que há quatro eleições consagra o PSDB e o PT como as duas grandes forças políticas em nível nacional. Partidos cuja origem, aliás, tem muitas semelhanças e afinidades de natureza ideológica, como a ligação de muitos de seus filiados aos movimentos de resistência à ditadura, nos anos de 1960 e 1970. Dilma, FHC e Lula estão entre eles, e já estiveram todos do mesmo lado da trincheira.


Mas o futuro que começou a virar presente por obra de tucanos e petistas, trazendo muitos avanços para o país, chegou propondo também um grande desafio: como fazer a transição do modelo assistencialista do Bolsa Família para mecanismos mais autossuficientes de transferência de renda?


NÚMEROS DO BOLSA FAMÃLIA PODEM DECIDIR ELEIÇÕES


Hoje existem 12,7 milhões de famílias recebendo o auxílio no Brasil. Como cada família tem 3,3 pessoas, segundo o IBGE, são quase 41,9 milhões de brasileiros dependendo, direta ou indiretamente, do benefício. Isso equivale a 22% da população brasileira.


Considerando que 70%, ou 135 milhões, dos brasileiros são também eleitores, existem hoje 29,3 milhões de cidadãos que, na hora de votar, podem ser influenciados pela renda extra obtida junto ao governo federal. Eles representam nada menos que 21,7% do total de eleitores que há no Brasil.


São números suficientes para decidir uma eleição. Para se ter ideia, o total de eleitores ligados direta ou indiretamente ao Bolsa Família – 29,3 milhões – representa mais do que o dobro da diferença com que Dilma Rousseff (PT) venceu José Serra (PSDB), que foi de 14 milhões de votos.


Teria a candidata vencido sem o volume de votos que recebeu dos eleitores gratos ao governo que ela representa e que distribui o benefício? Esta é uma questão que suscitará sempre dúvidas e questionamentos históricos, inevitáveis ao se debater a formação política do Brasil.


Por isso é preciso se pensar seriamente na transição do Bolsa Família para um modelo de mercado, mais sadio e autossuficiente, que possa regular a transferência de renda sem a mão pesada e perdulária do Estado.  


A ideia do benefício foi concebida por Herbert José de Sousa, o Betinho, sociólogo e importante ativista dos direitos humanos no Brasil. Na era FHC, foi implantada através do Bolsa Escola, do Auxílio Gás e do Cartão Alimentação. No governo Lula, foi adotada pelo programa Fome Zero e transformou-se no Bolsa Família. Cumpriu um papel importante para estancar o alastramento da miséria no Brasil, contribuindo sobremaneira para o quadro de avanço social que o país vive hoje.


Mas agora precisa ser revista. As famílias que dependem do benefício precisam de um encaminhamento social menos assistencialista e mais promissor, sob pena de transformarem-se em um câncer incurável e extremamente danoso para a saúde do país.


E o que é pior: em massa de manobra para grupos se perpetuarem no poder, enfraquecendo a democracia e minando a estabilidade institucional do país. Aí todos sairão perdendo, inclusive quem recebe o Bolsa Família. Desafio e tanto para a presidente eleita. Que Deus – e a razão – a iluminem nesta tarefa dura e ardilosa. O futuro do Brasil depende disso.     


  




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