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CARRO, CANIL E CALÇADA SE LAVA COM ÃGUA REAPROVEITADA
Domingo, 06 de Fevereiro de 2011

Quando publicamos editorial (clique aqui e confira) propondo novo enfoque na abordagem sobre o racionamento de água efetuado em Blumenau, deixamos de fora, propositalmente, algumas variáveis importantes da análise. Queríamos reservar conteúdo para voltar ao tema e, ao mesmo tempo, testar até onde mexemos de fato com os brios de nossa audiência.


Para nossa alegria, recebemos comentário do leitor Leandro Karasinski (clique aqui e confira), gerente de negócios em Blumenau. Dono de argumentos claros, objetivos e incisivos, Karasinski já participou de outros debates no AEF, na maioria das vezes se posicionando contrariamente aos argumentos do portal.


Ficamos felizes em saber que temos leitores atentos, com opinião formada, que nos estimulam com sua participação, seja para concordar ou discordar. Um veículo de comunicação tem na interatividade com leitores e internautas seu principal patrimônio. Sem ele, é apenas um emissor de mensagens, que nem sempre chegam ao receptor. Quando a mensagem chega a quem deve recebê-la e volta, transformada, para o emissor, tem-se o verdadeiro processo de comunicação. Por isso comemoramos quando o leitor se manifesta de forma tão intensa, como fez Karasinski.


Abaixo, você confere, ponto a ponto, a posição do portal em relação aos argumentos apresentados por ele no comentário enviado. Se houver tréplica, ela será publicada também, fechando o debate. Assim, vamos cumprindo nosso principal compromisso com você: traduzir a notícia, e de forma interativa.


1) Alternativas de armazenamento, como cisternas de retenção da água da chuva, do chuveiro ou das torneiras: Karasinsky tem toda razão ao lembrar que hoje existem formas plausíveis e acessíveis para garantir um suprimento extra e gratuito de milhares e milhares de litros por ano. Com uma caixa d´água sob o solo, para onde se dirige, por gravidade, a água da chuva ou das torneiras, e outra elevada, que receberá, com a ajuda de um motor, a água reaproveitada, é possível abastecer o vaso sanitário e a mangueira com a qual será lavada a calçada, o carro ou, como lembra o leitor, o canil do cachorro.


2) Lavação de carro ou ônibus: no futuro será intolerável a ideia de usar água potável para estas atividades. O custo da captação e do tratamento, assim como da distribuição, tornar-se-ão limites naturais para um hábito hoje tão comum. Portanto, quem quiser manter o carro ou qualquer outro veículo limpo, terá que usar água armazenada nos sistemas descritos acima. O ideal é que isso já comece a ser feito. Na verdade já é, em alguns postos e estabelecimentos, mas precisa ganhar mais corpo, também nas residências.


3) Piscinas: são, de fato, uma afronta ecológica. Se todo cidadão tivesse uma em sua casa – o que, por sorte, não ocorre, principalmente em função de desigualdades sociais – o custo da água já seria muito mais alto do que é hoje. E muitas nascentes mais já estariam secas, além das que já secaram. Trata-se de um conforto ao qual todos têm direito, evidentemente, mas cuja fonte de abastecimento também precisa de uma origem mais sustentável.


4) Consumo pessoal de água: o editorial publicado pelo AEF não contabilizou o consumo pessoal de água que cada um de nós faz por duas razões: uma que muita gente já consome água mineral envasada em casa; outra que, mesmo nos casos em que a água da rede é usada para matar a sede, o volume deste consumo é praticamente insignificante perto daquele direcionado para os fins mencionados no editorial. Aos 324 litros calculados, acrescentariam cerca de 12 litros (quantidade de pessoas multiplicada pelo consumo de cada uma, que é de cerca de três litros por dia, conforme recomendam profissionais da saúde. Menos de 5% do total consumido, portanto.


5) Turbidez da água captada pelo Samae para tratamento: o editorial em questão parte do pressuposto de que a justificativa apresentada pelo órgão é verdadeira. Se não é, cabe às autoridades competentes – Ministério Público, Vigilância Sanitária, órgãos de defesa do consumidor, especialistas no assunto – apontar elementos que possam levantar dúvidas sobre esta veracidade. Feitos estes apontamentos, caberá à imprensa, então, dar visibilidade a eles. Quanto às variações de turbidez da água em 150 anos de história da cidade, impera lembrar que a explosão populacional é recente. Nos últimos 30 anos, a população de Blumenau triplicou, indo de 100 mil habitantes para 300 mil. Assim, o que antes não era um problema, passou a ser, frente a um aumento tão substancial na demanda por tratamento de água.


6) Suposto sucateamento do Samae: também precisa ser constatado e evidenciado por autoridades e especialistas competentes, para que possa ser divulgado, em eventual caso de comprovação. Caso exista, será preciso apurar responsabilidades, e estas provavelmente irão remontar a diferentes administrações, não apenas a atual, já que problemas de infraestrutura dificilmente são criados ou solucionados em uma só geração. Na maioria das vezes, consistem em um acúmulo histórico de erros. Se este é o caso, deve-se averiguar. Mas somente em caso de constatação clara e indiscutível pode-se incluir esta variável no debate público sobre o assunto.




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