Blumenau sediou nesta semana a 8ª Conferência Brasileira sobre Qualidade da Energia Elétrica (CBQEE), que reuniu “pesos-pesados†do setor energético nacional. Estiveram no evento o diretor de fiscalização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), diretores do Ministério das Minas e Energia, representantes de associações do setor, executivos de grandes indústrias e pesquisadores de elevada envergadura. Estudantes de engenharia elétrica também participaram.
A cidade recebeu a conferência, considerada berço de evoluções decisivas do sistema energético brasileiro, também como um reconhecimento à capacidade com que administrou o caos da rede elétrica durante a catástrofe ambiental de 2008. Na abertura do evento, o chefe da Agência Regional da Celesc de Blumenau, Régis Evaloir da Silva, apresentou detalhes da operação de guerra que a companhia montou para restabelecer o fornecimento de energia elétrica na região.
No artigo que escreveu para o Análise em Foco, Silva relata mais aspectos e detalha números da reconstrução. E admite: “Situação como esta não quero nunca mais passarâ€.
Entre os episódios e fatos mais marcantes no processo de reconstrução, destaco o trabalho para disponibilizar energia elétrica novamente no municÃpio de Luis Alves. Tivemos que construir um “alimentador†novo, partindo de ItajaÃ. O caminho original estava parcialmente destruÃdo, devido a vários deslizamentos ocorridos no seu percurso, na estrada que liga Blumenau a Luis Alves.
A construção deste circuito, em caráter normal, levaria no mÃnimo quatro meses para ser executada, pois requer estudo de solo, projetos elétrico, licenças ambientais, autorização do Deinfra, etc. Naquela ocasião, porém, foi construÃdo num perÃodo recorde de uma semana. Fato que merece destaque, pois realmente não há registro de tal feita no setor elétrico brasileiro.
Ao todo, em nossa região, foram trocados, em função da tragédia de novembro, mais de 1.150 postes,
Foram investidos, até hoje, mais de R$ 15 milhões em reposição de materiais e mão de obra. Será necessário investir, no entanto, mais R$ 14 milhões para concluir a reconstrução das redes de distribuição, bem como o banco de dados que foi danificado. Até o momento, as informações contidas no nosso sistema são diferentes do que está nas ruas.
Superação de limites e riscos
As maiores dificuldades no trabalho da Celesc, durante a tragédia, eram as seguintes: enfrentar o desconhecido; falta de comunicação/informação; falta de acesso aos locais; várias pessoas para coordenar; muitas atividades ao mesmo tempo; cansaço fÃsico e limite emocional esgotado, além do risco de acidentes. A organização dos grupos de trabalho era um desafio enorme, considerando que, além dos empregados da Celesc, vindos de várias regiões do Estado, utilizamos empresas contratadas, que já prestavam serviços de construção, manutenção e roçadas nas redes de distribuição de energia elétrica em todo o estado. Também contratamos empresas para efetuar limpeza e vigilância.
Nos dez primeiros dias trabalharam 391 pessoas na equipe técnica e 45 na administrativa. Foram utilizados 47 caminhões; 20 caminhonetes e 14 automóveis. Nossa maior preocupação eram os acidentes que envolvessem tanto as equipes que estavam trabalhando como a população. Em relação aos deslizamentos, que ainda estavam acontecendo, havia os riscos das equipes serem atingidas. Outra preocupação eram as doenças transmissÃveis pela água contaminada. Por isso, montamos um ambulatório para vacinar toda a equipe.
Felizmente, nenhum acidente de trabalho foi registrado, e isso é um fato relevante, pois as condições de trabalho eram totalmente adversas às condições normais.
Não tenho dúvidas de que toda a equipe adquiriu know-how suficiente para trabalhar e obter êxito em situações como as vividas durante a tragédia. Situação como esta, porém, eu nunca mais quero enfrentar. Mas em todo momento de crise há também oportunidades de aprendizagem. E sem dúvida aprendemos muito, sobretudo a importância de trabalhar