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INVESTIMENTOS ANUNCIADOS COBREM SÓ 30% DA DEMANDA, E BRASIL AINDA ESPANTA INVESTIDORES
Terça-Feira, 26 de Abril de 2011

Que o Brasil é um país abençoado por Deus e bonito por natureza, como diz a célebre canção da música popular brasileira, não se tem dúvida alguma. Até porque, se não fosse, provavelmente já estaria disputando com Haiti e Uganda os últimos lugares no ranking mundial da pobreza.


Mas, à despeito dos também célebres anacronismos e entraves da economia nacional – como burocracia asfixiante, carga tributária elevada, juros paralisantes, ineficiência estatal, lentidão alfandegária, falência infraestrutural, educação e formação profissional insatisfatórias – o país segue evoluindo e, aos trancos e barrancos, crescendo. Um verdadeiro milagre, se considerados os obstáculos impostos a quem produz em solo tupiniquim.


É altamente recomendável, contudo, que o Brasil pare de contar apenas com a boa vontade do Criador e aprenda a crescer por conta própria. Pois, se não fizer reformas federativas e administrativas profundas, assim como investimentos pesados em infraestrutura e logística, o gigante voltará em breve à sua eterna condição de adormecido.


No setor de infraestrutura, as perspectivas têm ar ainda mais sombrio. Para o presidente da divisão catarinense da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, Otfried Schnabel, que acaba de assumir o cargo, os problemas infraestruturais do Brasil – setor no qual os alemães estão muitíssimo dispostos a investir – só poderão ser resolvidos no médio e longo prazo.  


– Vejo que há uma certa dificuldade para investimentos a curto prazo. Isso porque, aqui no Brasil, grandes obras costumam demorar para serem realizadas, o que acaba minando a credibilidade para que investidores de fora possam apostar no Brasil –  conclui Schnabel, em entrevista para o AEF.


Ele cita como exemplo de atraso e lentidão burocrática a BR-470, que, há anos esperando por duplicação, ajuda a segurar o desenvolvimento de Blumenau e Santa Catarina. Neste contexto, também do Brasil, considerando a contribuição que a cidade e o estado dão para o PIB nacional.


DE UM LADO, A ALEMANHA. DO OUTRO, O BRASIL


A Alemanha é considerada líder mundial em eficiência logística, através de pesquisa realizada pelo Banco Mundial em 155 países. Já o Brasil, embora lidere o ranking na América Latina, é apenas o 41o da lista. Quando o assunto é eficiência alfandegária, então, a burocracia e a morosidade de nossas aduanas nos colocam em um nada honroso 82o lugar, atrás de Uganda (44o ) e República Democrática do Congo (59o), por exemplo.


Por isso não se pode tolerar mais que o governo federal siga fazendo proselitismo político em cima de um fato que merece mais atenção e seriedade. Enquanto a União anuncia investimentos “faraônicos†de R$ 15 bilhões nos portos brasileiros, através dos “miraculosos†PAC 1 e PAC 2, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) calcula que seria preciso investir pelo menos R$ 43 bilhões para que o Brasil afaste definitivamente o fantasma do apagão logístico e siga dando às empresas do país condição de continuar crescendo.


Assim, seria possível concluir que o PAC está mais para um problema do que para uma solução. Ele pode ser o começo de uma iniciativa para resolver o problema, mas apenas e tão somente o começo. E um começo bem tímido, tanto quanto demorado. Acorda Brasil!


Abaixo, você confere entrevista com o presidente da divisão catarinense da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, Otfried Schnabel, que mora em Blumenau:


ANÃLISE EM FOCO - Que tipo de avanços a criação da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha de Santa Catarina trouxe para a relação entre catarinenses e alemães?


Otfried Schnabel - Tanto para Santa Catarina, quanto para Blumenau, a criação da Câmara de Comércio e Indústria Brasil Alemanha contribuiu para o fortalecimento das relações comerciais, empresariais e de turismo entre Brasil e Alemanha. Também auxiliou na aproximação dos empresários. Os catarinenses têm mais oportunidades de negócios e veem, a cada dia, a grande importância desta relação.


AEF - Os europeus – e em especial os alemães – são críticos severos de nossas deficiências de infraestrutura, principalmente em relação a ferrovias, portos e aeroportos. Como podem ajudar o país a resolver este gargalo?


Schnabel - Acredito que os empresários alemães podem nos ajudar por meio de consultorias na organização da infraestrutura e no fornecimento de tecnologia. O Porto de Itapoá, no litoral norte catarinense, é um exemplo, que tem investimento de um grande grupo alemão. Nosso papel é promover a aproximação dos executivos de ambos os lados, para debater os assuntos relacionados ao setor. 


AEF - Quanto os alemães poderiam investir hoje no segmento logístico brasileiro? Que setores são prioridade? Há projetos de investimento para Santa Catarina e Blumenau, quais?


Schnabel - Como mencionei, o Porto de Itapoá já é uma realidade entre os investimentos vindos da Alemanha. É um projeto privado, no qual o maior acionista é a Hamburg Süd. Na minha opinião,  os investimentos em portos e aeroportos têm prioridade, porque poderiam agilizar e melhorar ainda mais as importações, exportações e viagens de negócios. É fundamental também melhorar os processos administrativos e burocráticos.


AEF - O Sr. vê condições para que esses investimentos ocorram no curto e médio prazo?


Schnabel - Vejo que há uma certa dificuldade para investimentos a curto prazo. Isso porque, aqui no Brasil, grandes obras costumam demorar para serem realizadas, o que acaba minando a credibilidade para que investidores de fora possam apostar no Brasil. É o caso da duplicação da BR-470, aqui perto, que está para sair há anos e nada. Outros pontos, são a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Se não houver investimentos na infraestrutura, o Brasil pode até ganhar muito com estes eventos, mas vai perder logo na sequência dos mesmos, pois manterá a ideia de que não é um país organizado.


AEF - Em que a cidade de Blumenau mais se parece com sua terra natal, na Alemanha? E no que mais se difere?


Schnabel - Moro desde 2005 em Blumenau, com minha esposa, que é brasileira, e meu filho. Acredito que os pontos que mais se assemelham com a Alemanha são a comida e bebidas típicas, além da arquitetura e Oktoberfest. O que difere, principalmente, é a falta de investimento na infraestrutura da cidade, em calçadas e vias de qualidade e padronizadas, que poderiam trazer mais conforto e segurança para motoristas, pedestres e ciclistas. Acredito que a unificação das obras daria maior destaque à cidade e a deixaria ainda mais bonita.


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