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COLOMBO Dà OXIGÊNIO EXTRA A EMPRESAS, MAS ISSO É TUDO QUE ELE PODE
Quinta-Feira, 15 de Setembro de 2011

A Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina (Badesc), seguindo orientação do governador João Raimundo Colombo, dará carência extraordinária para financiamentos feitos por empresas sediadas em municípios catarinenses atingidos pela última enchente. A medida valerá apenas para linhas em que são utilizados recursos próprios (não repasses do BNDES), e prevê a suspensão total de pagamento, por parte das empresas, até o dia 31 de dezembro deste ano. Quem estava inadimplente até o dia 8 de setembro, contudo, não poderá aderir ao plano de carência.


A medida deve beneficiar cerca de 120 empresas de 66 municípios em Estado de Calamidade ou Situação de Emergência, conforme decretos assinados nesta quarta-feira pelo governador do estado. Os interessados devem solicitar a carência, junto ao Badesc, até o dia 14 de outubro.


Os valores que deixarem de ser pagos neste período serão cobrados no final dos contratos, em número de parcelas igual àquele concedido em carência ( a empresa deixa de pagar 4 parcelas agora e acrescenta-se mais quatro meses ao contrato, a serem pagos ao final do prazo contratual original). Para o Badesc, a medida significará o postergamento do recebimento de aproximadamente R$ 5 milhões.


– O governador entrou em contato com o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, para solicitar que eles também concedam carências nos contratos ativos com empresas que estejam nestes 66 municípios, a exemplo do que fizeram para beneficiar as empresas atingidas pela tragédia de 2008. Estamos no aguardo de um retorno do BNDES – informa o presidente do Badesc, Nelson Santiago.


Esta é a segunda medida de alívio ao crédito adotada pelo governo do estado em 2011. No começo do ano, o governador assinou decreto criando um fundo emergencial para empresas afetadas por desastres ambientais (clique aqui e confira mais detalhes). Com juros mais baixos e prazos mais longos que as linhas convencionais, a nova modalidade de crédito oferecida pelo Badesc poderá ser decisiva para empresas que tiveram prejuízo com as chuvas de setembro em Santa Catarina.


OPINIÃO DO PORTAL


A iniciativa do governo do estado é louvável. Na verdade é tudo o que se espera do poder público em termos de incentivo à produção: deixar o dinheiro mais acessível e barato para as empresas investirem mais, gerarem mais empregos e contribuírem mais para a expansão das riquezas do país. Principalmente em momentos de dificuldade, como neste pós-enchente.


Mas as medidas assinadas pelo governador Raimundo Colombo ensejam também novo debate sobre uma questão crucial para o país: a taxa de juros exorbitante praticada pelo Tesouro Nacional.


Os percentuais oferecidos pelo Badesc em sua linha emergencial, por exemplo, são de 15%  para investimento e 16% para capital de giro, ao ano. São taxas bastante adequadas quando comparadas às praticadas na ciranda financeira dos bancos privados, mas ainda estão longe daquilo que merece quem produz e gera riquezas.


O banco catarinense está fazendo a sua parte, flexibilizando até aonde pode, mas também precisa realizar seus spreads para manter-se viável e, com isso, não pode ir muito além de onde já foi. O problema está na Selic, a taxa básica de juros praticada pelo Banco Central.


Na verdade o problema está na dívida do setor público. Se não devesse tanto, o governo não precisaria atrair tanto capital externo e com isso derrubaria os juros aqui dentro. Mas precisa oferecer bons lucros para a agiotagem internacional, sob pena de não conseguir honrar todos os seus compromissos. E assim, vai matando a competitividade da economia nacional em duas frentes: deixando o dinheiro mais caro para quem produz e aniquilando a competitividade da indústria com a valorização do real, que, em meio à enxurrada de dólares colocados no Brasil pelos agiotas, ganha peso e gordura desnecessários.


CHINA, O TIO PATINHAS DE OLHOS PUXADOS


Dizem que a China sustenta seu câmbio de forma artificial, mas o que também ajuda muito a terra de Mao Tse Tung a ter juro baixo e, portanto, moeda desvalorizada em relação ao dólar, são os mais de US$ 3 trilhões que tem de reserva cambial e 52% do PIB em poupança interna – o Brasil poupa risíveis 17% do PIB e tem reservas bem mais modestas, de US$ 350 bilhões.


Os chineses estão sentados em cima do próprio dinheiro, ao melhor estilo Tio Patinhas. Não precisam pegar emprestado com ninguém, nem pagar juros para capital externo algum, como faz o Brasil. Financiam sua dívida com recursos próprios, e por isso pagam menos juros, valorizam menos o câmbio, exportam muito mais e crescem a um ritmo três vezes superior.


Os chineses hoje são o grande cofre do mundo. Estão até posando de salvadores da pátria mundial, disponibilizando-se a comprar títulos das dívidas grega e italiana, que são maiores que o PIB de seus países e impagáveis, portanto, ameaçando implodir a Zona do Euro.


O Brasil tem uma situação mais confortável que a Grécia e a Itália, mas ainda assim preocupante. Nossa dívida se aproxima da metade do PIB e impede o governo de baixar mais os juros, para desestimular o real ante ao dólar e estimular a indústria nacional, combalida pela desvalorização da moeda norteamericana e pela concorrência chinesa, aqui e lá fora.


Só para se ter ideia, a última redução da taxa de juros no Brasil, em 0,5%, fez o dólar reagir e voltar para o patamar de R$ 1,70, depois de oscilar na faixa dos R$ 1,50. Hoje a Selic está em 12% ao ano, então imagine o que aconteceria com o câmbio e a produtividade nacional se o governo a reduzisse pela metade, para 6% ao ano.


Por isso é hora do Brasil aproveitar a carona da quebradeira europeia para reduzir sua dívida, estimular o cambio e turbinar a indústria nacional. Pois, se não fizer isso, a desindustrialização brasileira vai seguir em curso – como mostram os indicadores mais recentes da economia, como redução da atividade industrial e esfriamento do PIB –, a arrecadação vai cair e daqui a pouco vamos estar como Grécia e Itália, de pires na mão.    


 




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