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ABC CICLOVIAS APOSTA EM PROJETO QUE COMEÇA HOJE EM BLUMENAU
Terça-Feira, 22 de Setembro de 2009

O projeto que oferece aluguel de bicicletas em terminais urbanos – em operação a partir desta terça-feira em Blumenau – tem tudo para dar certo. Afinal, ele é a combinação de dois modais básicos: o coletivo e o individual não motorizado. E se torna muito prático, pois o passageiro desembarca no terminal e ali mesmo já pega a bicicleta e pedala até o destino. Conecta a bicicleta na estação mais próxima e não se preocupa mais com ela. Quando quer voltar, liga do celular para saber da estação mais próxima, reserva a sua, desbloqueia e pedala até o terminal. Deixa ali a bicicleta e embarca no ônibus até sua casa.


Blumenau já tem ciclofaixas e ciclovias. Até hoje, porém, somente em forma de segmentos, sem conexão. Desta forma, elas se tornam perigosas quando terminam, desmotivando a grande maioria dos ciclistas a andar pela cidade, a ir trabalhar pedalando, por exemplo.


E não se trata de comparar ou competir com outras cidades do Estado. Blumenau deve, isto sim, comparar-se consigo mesma. Neste sentido, ela está com 12 anos de atraso, desde quando a Associação Blumenauense pró-Ciclovias (ABC) surgiu como parceira. No Brasil, há exemplos bem sucedidos de estímulo ao uso deste meio de transporte, limpo e saudável, como as cidades de Aracaju e Sorocaba, a Baixada Santista e outros mais, em número crescente.


AS CICLOVIAS E O PROJETO BLUMENAU 2050


O projeto Blumenau 2050 prevê a interligação de ruas e avenidas por ciclofaixas e ciclovias. Até lá, porém, é preciso estar com toda a malha do Sistema Cicloviário de Blumenau (SCB) concluída. Esta é uma reclamação dos ciclistas, a falta de continuidade dos corredores que existem hoje para bicicletas. 


É quase como se fosse o traçado de uma via expressa sendo interrompida após trechos curtos e caindo no tráfego urbano. E isto se repetindo sucessivamente, com a diferença que o motorista está protegido dentro duma armadura de aço dez vezes mais pesada que ele; ao passo que o ciclista é de cinco a dez vezes mais volumoso que seu veículo e fica completamente exposto sobre ele.


Existe o argumento de que, mesmo com a oferta de ciclovias, há uma resistência das pessoas a trocar o carro pela bicicleta. Mas é cedo para afirmar isso, pois ainda não tínhamos uma rede. Somente a partir deste Dia sem Carro é que teremos a primeira ligação do Centro a três destinos: Furb, Fonte Luminosa e Hermann Huscher. É preciso dar tempo ao tempo, necessário à familiarização com esta novidade.


A grande maioria da população - uns 70% - pedia pela conclusão do SCB, então esperamos que a adesão deles aconteça gradativamente. Aumentará também na proporção em que novos destinos sejam acrescentados. Vai depender também do comportamento dos motoristas, pois teremos alguns pontos menos seguros e os motorizados ainda não foram conscientizados da responsabilidade deles para com os mais vulneráveis. Da mesma forma, os próprios ciclistas também precisam ser educados.


Há também um fator antropológico: o homem se sente mais poderoso, seguro e confortável dentro de um automóvel. Como vencer esta resistência? Bem, aqui estamos falando dos outros 30%, desta minoria que usa o carro como veículo individual, que sempre teve todas as regalias de infraestrura, que - diga-se de passagem -, é paga por todos. Para estimular o uso da bicicleta, é preciso mostrar-lhes quando a bicicleta é vantagem. Por exemplo: para curtas distâncias, ou para combater o stress, para melhorar a saúde, para experimentar sensação de liberdade ou simplesmente para livrar-se de sua dependência do Sr. Carro.


SUGESTÃO DA ABC: CICLOVIAS NA BR-470


A ideia de sugerir ao Departamento Nacional de Infraestrutura (Dnit) que faça ciclovias na BR-470 está baseada na elevada demanda e necessidade de segurança para os ciclistas que já fazem este percurso e dos que passarão a faze-lo quando tiver segurança.


A pergunta que surge, então, é: pode-se imaginar que o poder público encare com seriedade esta proposta? Sim, pois agora existe a vontade política. É irreversível.


A topografia e o clima quente de Blumenau, há quem argumente, dificultam o uso da bicicleta. Podem dificultar na visão de quem é dependente do carro, mas não inviabilizam para quem tem criatividade para descobrir aquelas ruas que contornam o morro ou empurrar na subida antevendo a delícia da descida. O clima é bom. No calor, a brisa refresca. Andar na marcha mais leve ajuda, para não fazer força, o que faz transpirar. Assim, você não cansa e gasta até cinco vezes menos energia do que caminhando, por exemplo.


Hoje cerca de 2% da população blumenauense usa regularmente a bicicleta, muito menos do que os 80% que o faziam uns 70 anos atrás. Em outros países o uso deste meio de transporte é mais frequente, sim, porém eles estão a mais de 30 anos na nossa frente. Entre eles estão a Holanda, Dinamarca, Alemanha, Suécia, Ãustria, França, etc.


As bicicletas de hoje têm praticamente tudo de melhor em relação às antigas. Destaco o peso, o câmbio,  a suspensão, freio a disco. Entre as últimas novidade tecnológicas do setor, estão a fibra de carbono e o câmbio automático, por exemplo.


Por isso, a ABC Ciclovias faz ao poder público, no sentido de incentivar o uso da bicicleta, o seguinte apelo: dar continuidade à expansão das ciclovias, distribuir estacionamento seguro, fazer campanhas educativas. Às pessoas, pedimos criatividade e bom senso. Primeiro pedalar, para, depois, avaliar e julgar.


 


Por Wilberto Boos, presidente da Associação Blumenauense pró-Ciclovias (ABC). Colaborou Eldon Jung, empresário e conselheiro da ABC.




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