EDITORIAL AEF
Cerca de 200 deptos da cannabis sativa fizeram passeata pela liberação da droga, neste domingo, em Blumenau. O movimento foi organizado através das redes sociais e, inicialmente, a expectativa era reunir 600 pessoas*.
Na página Cotidiano do Análise em Foco, o colunista FabrÃcio Wolff avalia que a promoção deste tipo de evento na cidade indica sinais de mudança no comportamento social e cultural dos blumenauenses, que, há 30 anos, na opinião dele, provavelmente não promoveriam tal tipo de ato.Além desta análise, o momento é oportuno para outra: o Brasil deve ou não liberar o uso da maconha? Se, de um lado, ela é uma droga como outra qualquer, que vicia e causa danos à saúde, do outro seu consumo já está tão largamente difundido e estimulado que não faz mais sentido deixar o controle deste mercado nas mãos do crime, que se aproveita do vÃcio e da fraqueza dos usuários para fortalecer seu caixa e organizar suas ações. Assim como outras drogas, entre as quais algumas também já aceitas “socialmenteâ€, como a cocaÃna, a maconha gera faturamentos bilionários, colocados a serviço da violência e da organização paralela dos criminosos.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) já declarou-se a favor da liberação. Outras figuras respeitadas, mesmo que discretamente, também já se posicionaram favoráveis à mudança da lei. O seio da sociedade, contudo, ainda é reticente e ortodoxo em suas opiniões sobre o assunto.
O fato é que, do jeito que está, não pode ficar. O Estado finge que proÃbe, a polÃcia finge que combate e a sociedade finge que está tudo bem. Pois não está. Parte significativa da violência que assola o paÃs vem do poder que o comércio ilegal de drogas dá aos barões do tráfico, e as instituições públicas, principalmente aquelas ligadas aos poderes Executivo e Judiciário, não estão conseguindo proteger o paÃs deste câncer cruel.
Que mais figuras públicas do quilate de FHC venham a público dar sua opinião e jogar mais luz sobre o debate. O veÃculos de comunicação, que ajudam a formar opinião, também precisam fazê-lo, pois, ficando em cima do muro, em nada contribuirão com a discussão.
O Análise em Foco, por exemplo, acredita que polÃticas de descriminalização, desde que acompanhadas de polÃticas complementares na área da saúde, possam ser um caminho factÃvel para a reversão de um quadro que precisa ser revertido. É preciso que autoridades, homens públicos e sociedade, contudo, tenham a coragem de debater abertamente a questão, saindo da posição confortável de simplesmente fugir do debate. Isso está custando muitas vidas de pessoas inocentes, é preciso lembrar. Por isso abram o olho, senhores.
* Trecho alterado após a publicação, para fins de atualização de conteúdo