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GOSTAR DE ARTE É DIFERENTE DE SER ARTISTA
Sexta-Feira, 08 de Junho de 2012

Frequentadora do cenário artístico desde os tempos de Elke Hering, Lindolf Bell e a Galeria Açu Açu, que marcou a história da arte blumenauense, a arquiteta e artista plástica Ester Renaux tem a sensibilidade e o olhar profundo dos artistas. Lembra da sinuosidade do Itajaí-Açu cortando Blumenau e das montanhas que pintam de verde o horizonte da cidade. Mas lembra também que é preciso pensar mais nas pessoas que moram nela, cuidando melhor das matas ciliares (num lugar castigado por sucessivas cheias) e favorecendo mais a circulação de pedestres, por exemplo.


– A vida de uma cidade são as pessoas. Um ambiente só é completo com as pessoas que fazem parte dele – reforça Ester.


A seguir, confira entrevista com ela:


Análise em Foco - Como foi seu envolvimento com a arte? Desde quando aprecia a produção artística?


Ester Renaux: Na minha opinião, todo mundo é envolvido com arte! Acho que sou envolvida com ela desde sempre... Arte é uma expressão, uma coisa que está na vida de qualquer pessoa desde o momento em que ela – como criança – começa a mexer com lápis, cola e papel.


Mas isso é diferente de ser artista, já que não depende somente de uma forma de olhar. Para o artista, chega um momento em que se precisa expressar isso em algum suporte. Os suportes são diversos: posso modelar argila, fazer papéis, pintar um quadro e criar possibilidades dentro de um “fazer artísticoâ€. São experiências que vão acontecendo ao longo da vida do artista e que em um determinado ponto aparece um suporte que te deixa mais à vontade e onde o ato criativo fica mais claro. Hoje, meu ato criativo aparece nas telas. Mas isso nunca para e pode mudar!


AEF - Quais são suas principais fontes de inspiração para compor?


Ester: As fontes de inspiração são as mais diversas possíveis. Como o artista está expressando algo que está nele, a inspiração pode ser um olhar, um dia ensolarado, um sonho, pensamento, o mundo! É algo que vai tocar algum ponto e é daí que vem a vontade de se expressar. Por isso, não acredito na repetição da arte. Arte é única. Está aí a beleza de adquirir uma peça de arte – é a cristalização de uma inspiração.


O mundo atual é rápido e repleto de novidades que passam num instante. Será que a criatividade consegue ser tão veloz? Em tempos de artes virtuais, as inspirações se misturam... A arte também se impregnou dessas transformações, se enquadrou de uma forma diferente do que havia antes. Eu mesma mantenho uma FanPage,(facebook.com/arquiteturamaisarte), um canal virtual de troca de informações sobre arte, arquitetura e design. O próprio Análise em Foco é um canal virtual e cá estamos, falando sobre inspirações e expressões!


AEF - A arquitetura tem uma verve criativa por natureza, de forma que o arquiteto, assim como o artista, também trabalha muito com inspiração e criatividade. Como uma arquiteta/artista, como você vê o crescimento urbano de Blumenau, há algum mérito arquitetônico nele? O que, de diferente, a cidade poderia fazer em termos de concepção arquitetônica?


Ester: Arquitetura, arte e urbanismo estão estreitamente ligadas. A arquitetura projeta abrigos, que devem assegurar uma série de situações, mas que sempre convergem para a qualidade de vida das pessoas – assim como a arte!


Acho Blumenau uma cidade linda, com montanhas e um rio naturalmente sinuoso, que vai se alongando por entre a cidade. Esse delineamento que o rio faz na cidade é uma das características que fazem Blumenau ser tão bela. Apesar de todos esses pontos positivos, o rio provoca receio na população devido às cheias. Por isso, deveríamos cuidar mais das matas ciliares e projetar edificações que valorizem essa paisagem.


Como concepção urbana e arquitetônica, Blumenau tem uma grande oportunidade de privilegiar mais o pedestre. Calçadas, parques, áreas abertas, iluminação, infra estrutura para pessoas que caminham e que visitam espaços. A vida de uma cidade são as pessoas. Um ambiente só é completo com as pessoas que fazem parte dele!


AEF - A cultura e a produção artística de Blumenau têm suas peculiaridades, vivem ciclos de altos e baixos. Ora artistas e mercado vivem sintonia produtiva, ora reclamam um do outro. O que você acha do potencial artístico da cidade e da região?


Ester: Houve uma época em que realmente aconteceu uma efervescência de ideias e produção artística em Blumenau. Historicamente, esses movimentos aconteceram na época da galeria Açu Açu com Elke Hering e Lindolf Bell, uma geração que lutou muito pelas formas de arte e expressão na cidade. Mas a arte existe e é vivida em Blumenau, eu sou exemplo disso! Existem muitos artistas produzindo e fazendo arte de qualidade por aqui. Como disse antes, hoje você não precisa expor em um salão de arte para mostrar sua arte, pode colocar suas obras no Flickr e no Facebook e faze-las viajar o mundo.


AEF- Por que escolheu Blumenau como destino de uma galeria de arte?


Ester: Tudo começou com o resgate de uma edificação antiga, na Rua 7 de Setembro. Ela continha a história de Blumenau na sua estética e materiais e foi completamente revitalizada, mantendo suas características originais e ao mesmo tempo, permitindo intervenções contemporâneas e paisagismo. Sim, temos um jardim secreto aqui e ele está cheio de esculturas! Funciona como uma galeria de arte ao ar livre.


Enquanto restaurava este local, pensei: por que não juntar o escritório de arquitetura com um atelier de arte, um espaço para expor a mim e a outros artistas, para resgatar o artesanato brasileiro e esses diversos olhares que a arte permite? Dessa mistura, surgiu o Ester Renaux Arquitetura & Arte. É antes de tudo, um conceito. Uma pausa no dia a dia corrido, um momento para quem quer viver arte.


AEF- O que a galeria que você acaba de abrir tem de diferente das outras galerias de arte, dentro e fora do país?


Ester: A maior diferença é... não ser bem uma galeria de arte! É um espaço idealizado por uma artista, que buscava fugir de padrões. Imaginei um local em que todos pudessem experimentar a união de arquitetura, arte e suas vertentes, sem inibições. Quem quiser falar, ver, conhecer e viver arte é bem vindo!


Uma inovação é a importância que dou ao atendimento personalizado ao cliente, que muitas vezes não sabe como iniciar uma coleção de arte ou como simplesmente adquirir uma peça para valorizar um ambiente.


Outro ponto pelo qual prezo muito é inclusão dos profissionais da área. Na galeria, funcionamos como um canal para arquitetos, decoradores e designers que desejam incluir alguma forma de arte em seus projetos ou se atualizar com as novas obras que vão sendo incluídas no acervo. Como nossos parceiros, esses profissionais recebem atendimento e serviços especializados, facilitando a interação entre projeto, arte e cliente final.   


Uma novidade que vem por aí e que inclui um público mais amplo são os workshops, palestras e oficinas sobre arte que realizaremos. Serão encontros informais com temas relativos ao universo da arte, desde um bate papo informal a temas mais técnicos e específicos.


 




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