Análise em Foco > Personalidade
NASCE UM BRASIL QUE CONDENA CORRUPTOS?
Quarta-Feira, 29 de Agosto de 2012

Quando
o Supremo Tribunal Federal começou a julgar o “mensalãoâ€, ficou a certeza de
que
algo realmente está mudando no país. Há bem pouco tempo atrás, ações
corruptas como esta ficariam impunes, seriam varridas para debaixo do tapete.
Pelo visto, o Brasil parece mesmo estar tomando jeito, abandonando o “jeitinhoâ€
que sempre beneficiou os que cometem crimes de colarinho branco e dando um bom
exemplo à sociedade. A compra (literal) de apoio político em benefício dos
interesses de alguns, ainda que seja o governo, é uma afronta à democracia e
deve ser exemplarmente punida. O julgamento dos “mensaleiros†no órgão máximo
do Poder Judiciário nacional está sendo acompanhado com atenção pela mídia e
nesta segunda-feira vimos que seis dos onze ministros já condenaram quatro dos
38 acusados. Se nenhum voto for modificado, os primeiros réus do mensalão – o
ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, e os publicitários Marcos
Valério, Cristiano Paz e Ramon Hollerbach
– já têm uma conta a pagar com a
sociedade.


No
Brasil de outrora, o caso certamente cairia no esquecimento. Denunciado pelo
deputado federal Roberto Jefferson em 2005, o mensalão tinha tudo para ter o
mesmo fim das centenas de maracutaias denunciadas ao longo das últimas décadas
no país, mas que sempre acabaram em pizza. Afinal, embora o caso atual envolva
o governo do PT no primeiro mandato do presidente Lula, todos os brasileiros
minimamente informados sabem que a prática de comprar apoio político para
“garantir a governabilidade†era prática usual em Brasília desde sempre. Duas
grandes diferenças fizeram deste ato corrupto uma questão de honra para a
Justiça e para o próprio país: primeiro, que o corruptor, neste caso, segundo
as denúncias, foi o governo do PT, partido que se destacou como baluarte das
práticas éticas e sérias na política enquanto estava na oposição. Ao agir de
forma equivocada, moral, ética e legalmente, não se mostrou pior que os
governos antecessores, mas pelo menos igual. E se esperava outra postura do
partido que pregava e se auto-intitulava o arauto da moralidade. Segundo, que o
denunciante era um deputado federal, também beneficiado, e conhecedor de
detalhes da operação, o que acabou desencadeando o atual processo judicial. Era,
pois, um denunciante de peso.



O
episódio do mensalão, antes mesmo do julgamento dos réus, deixou algumas lições
marcantes na vida pública brasileira. Uma delas é que os partidos políticos,
quando chegam ao poder, costumam agir de forma semelhante e tudo fazem em nome
da tal governabilidade, independente dos discursos éticos e das ideologias
políticas
. A segunda é que o país está realmente mudando. Finalmente o Poder
Judiciário
– ou pelo menos boa parte de seus integrantes – abriu os olhos para
o fato de que é impossível varrer a sujeira para debaixo do tapete e fechar os
olhos para os desmandos do alto escalão do poder. Afinal, embora cega, a
Justiça tem ouvidos para o clamor da sociedade que quer mudanças profundas no
que se refere à postura dos governantes. O Poder Judiciário sente que a
impunidade é a mãe de todos os males e que este é o momento de fazer história.
O mesmo martelo da Justiça que condena os mensaleiros, é a ferramenta para
declarar que estamos entrando em uma nova era. Um tempo em que políticos deixam
o altar da impunibilidade para trilhar o caminho dos interesses da sociedade
brasileira. A decisão de cada ministro do Supremo, voto a voto, vai desnudando
este novo tempo.



O
julgamento de todos os 38 reús, prevê-se, só terminará em setembro. A partir de
agora as sessões acontecem às segundas, quartas e quintas-feiras. Se somente o
fato de ver “colarinhos brancos†irem ao banco dos réus já era uma novidade
para um país que precisa de esperança e de retomar a confiança em suas
instituições, a condenação dos acusados, como vem ocorrendo neste primeiro
momento, parece estar marc ando o final de uma era de abusos, corrupção e  desmandos políticos. Há muito mais, no
entanto, a investigar, acusar e julgar. Somente com punições reais e severas e
bons exemplos vindos de cima, poderemos ter um Brasil melhor no futuro, que
possa encher de orgulho nossos filhos e netos. Que o caso em questão não seja
um fato isolado. Que a condenação tenha efeitos imediatos e incisivos nos réus.
Que o Poder Judiciário, na atribuição de suas funções, em uma ponta, e o
cidadão-eleitor, consciente, em outra, possam colaborar de forma definitiva
para fazer despertar o gigante adormecido e transformar este imenso país em uma
grande nação.






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