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PARA COMÉRCIO, DOR E PREJUÃZOS FORAM SUBSTITUÃDOS POR LUCRO E OTIMISMO
Terça-Feira, 08 de Dezembro de 2009

Blumenau e o Vale do Itajaí precisaram enfrentar, no mesmo ano, a crise financeira mundial e a tragédia ambiental. Entre novembro de 2008 e novembro de 2009, a população e as empresas da região precisaram encarar os prejuízos da cheia e dos deslizamentos e ainda os obstáculos impostos pela quebradeira do sistema financeiro mundial, que reduziu crédito, consumo, produção industrial e número de empregos.


E como nos saímos diante de tantas dificuldades? Muito bem, na opinião do presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Blumenau (Sindilojas), Alexandre Ranieri Peters. Pelo menos para o comércio, a tragédia acabou trazendo um elemento altamente positivo: a liberação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Além disso, despertou novamente o ímpeto guerreiro e solidário do blumenauense, que, mais uma vez, fez da reconstrução da cidade mola propulsora para o desenvolvimento.


Leia, a seguir, o artigo de Peters sobre o que aconteceu no Vale durante os 12 meses que se passaram desde o novembro negro. Ele é o segundo da série Um Ano Depois, que trará especialistas e pesquisadores ao portal, cada um avaliando a realidade socioeconômica da região após o novembro negro.


Na semana que vem, traremos o terceiro artigo da série, escrito por outra influente personalidade. O primeiro publicamos na semana passada, e foi escrito pelo presidente da Associação Empresarial de Blumenau, Ronaldo Baumgarten Jr. Clique aqui e confira.


A seguir, o artigo de Alexandre Peters:   



Em um primeiro momento, além do prejuízo com a perda de vidas e patrimônios, as lojas do comércio receberam o forte impacto da tragédia. E o pior: em plena crise mundial. Na sequência, tivemos uma boa recuperação – acredito que até moral –  com a solidariedade de todo o país. Mas o que realmente injetou ânimo no comércio foi o ingresso dos recursos como o FGTS, que reacederam a economia.


O impacto da tragédia nas famílias foi muito grande. Mas se, por um lado, o consumidor ficou apático, por outro o vendedor, nas lojas, permaneceu solidário a todo o drama. Já na recuperação, a situação ficou fantástica, pois o sentimento de reconstrução encheu todos de esperança e motivação para o trabalho.


A crise financeira, há que se reconhecer, impôs aos empresários as dificuldades que todos enfrentam, mas especialmente aquelas ligadas à insegurança. Os empresários que lidaram diretamente com a crise, principalmente os ligados à exportação, passaram por dificuldades, reduzindo a produção e vendo o faturamento cair, entre outras dificuldades, como crédito escasso. Mas, no comércio, este reflexo demora um pouco mais a chegar e, especialmente aqui em Blumenau, acabou ofuscado pelas consequências da tragédia.


DA RETRAÇÃO À RECUPERAÇÃO: AQUECIMENTO DO PÓS-TRAGÉDIA CHEGOU A EXTREMOS


Estudos em nível estadual indicam que houve, sim, num primeiro momento após a crise e o desastre, retração da atividade econômica. Recuperada, porém, a partir de outubro deste ano. Mas esta tendência acabou por não ser percebida aqui em Blumenau, justamente pelo movimento econômico gerado pelo FGTS, que foi proporcional ao salário de mais quatro meses do trabalhador neste ano.


No comércio varejista, os setores mais afetados inicialmente pela tragédia foram aqueles cujos produtos não são tão necessários e podem ser dispensados pelo consumidor em momentos difíceis. Logo que liberados recursos para a região, porém, o aquecimento chegou aos extremos. É importante registrar que outros fatores de ação de governo colaboraram, como essas promoções de IPI zero ou reduzido.


Logo após a tragédia e a crise financeira, tivemos fechamento de empresas, redução de atividades e demissões (Blumenau perdeu mais de 5 mil empregos, entre outubro e dezembro de 2008). Mas o efeito contrário surgiu rapidamente, e hoje o comércio é o setor que mais emprega na região.


A retração da liquidez mundial e da oferta de crédito, claro, ainda afetam as empresas do setor, pois atingem toda a cadeia produtiva. Ainda assim, pode-se dizer que o consumo está aquecido, muito aquecido. Há sintomas até mesmo de falta de produtos, uma situação normal nesta época do ano.


O Brasil, especialmente, vive um bom momento e esta onda deve permanecer, principalmente em um ano de eleições. A virada da economia norteamericana, cujo PIB parou de encolher e deve voltar a crescer, também é um indicativo de que o fim da crise pode estar se aproximando.


E nós comemoramos isso, claro, até porque acreditamos no consumo, e nisso os EUA ainda são mestres.


PRÓXIMOS ANOS DEVEM SER DEDICADOS AO CONSUMO INTERNO


Com relação às dificuldades que o dólar baixo impõe às exportações, eu apostaria no mercado interno, pois há hoje uma considerável melhora na classe média, e o ingresso de uma boa fatia da população no consumo.


Por isso acredito que o comércio irá gerar demanda suficiente para aumento de produção na indústria brasileira. Já se fala até em falta de mercadorias, sintomas de que o mercado consumidor puxará toda a economia.


A nova redução do IPI, desta vez para móveis, também vai contribui para aquecer o comércio e, por consequência, a economia.


Estas iniciativas têm demonstrado serem uma política certa. O consumidor atende perfeitamente a este apelo. Não é o percentual da redução que aquece as vendas, e sim a promoção, a proposta que se faz para as famílias terem maior acesso ao consumo.


Por isso, para empresários do setor e consumidores, dou o seguinte recado neste fim de ano:  agilizem-se, antecipem suas compras, usem todos os seus direitos e recursos para que suas famílias e também as suas empresas possam ter mais estabilidade e praticar o exercício do crescimento. Acreditamos que os próximos anos serão muito bons.


 


Por Alexandre Ranieri Peters, presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas) de Blumenau




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