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POR QUE A FURB NÃO VIROU FEDERAL?
Domingo, 02 de Dezembro de 2012

EDITORIAL AEF


Esta é uma resposta que trará consigo sempre grande porosidade. Terá sempre alguma variável desconhecida, algum aspecto obscuro, algum olhar subjetivo e muitas conversas paralelas sobre as quais nunca se ouvirá falar nem se conhecerá o conteúdo. Por isso, opinar sobre este assunto é sempre uma iniciativa de altíssimo risco.


De qualquer forma, para um veículo de comunicação cuja missão é traduzir a notícia, não apenas relatá-la, é preciso assumir este risco, encará-lo de frente e enfrentar eventuais consequências objetivas. Façamos, pois, algumas conjecturas.


Na semana passada, artigo publicado na coluna Cotidiano do Análise em Foco gerava comentário audacioso e incisivo de um internauta que acessa o portal:


– Também sou contra a federalização da Furb, que é mal administrada e cheia de funcionários e professores que recebem sem trabalhar. Aí ninguém sabe por que a dívida só aumenta – disparou o técnico em educação Sebastião Bonamigo (clique aqui para conferir íntegra do comentário).


Eis um assunto sobre o qual é preciso refletir, de forma honesta e amadurecida: a Furb tem, sim, mais funcionários do que deveria, em alguns setores, recebendo ótimos salários e trabalhando menos do que poderiam, digamos. Seria possível mencionar nomes de departamentos e pessoas, mas, por questões éticas e legais, melhor não fazê-lo. O fato de que a universidade blumenauense precisa de reorganização corporativa, contudo, é indiscutível.  Mas é exatamente aí, no entanto, que chega-se ao principal problema: a maioria do corpo funcional da instituição é concursada e, assim, goza de estabilidade.


Qual teria sido o peso desta variável nas tratativas que envolveram a tentativa frustrada de federalizar a Furb? Difícil atribuir ao certo, mas que ele deve ter contribuído para os movimentos da balança, deve, não obstante o fato de que as instituições federais, entre as quais universidades como a UFSC, também tenham seus elefantes brancos escondidos no armário.


Paradoxo constitucional


No que diz respeito à alegação de que foi a Constituição a responsável pelo impedimento da parceria entre a UFSC e a Furb, parece até um paradoxo num país acostumado a esquecer a Carta Magna tão logo isso seja conveniente a indivíduos ou grupos específicos. Se duas instâncias de poder, diferentes mas análogas, estão impedidas legalmente de compartilhar pessoal, estrutura e conhecimento, há algo errado com a lei. Mas, então, que impeçam também a transferência de impostos para a União, por exemplo, para deixar o dinheiro do cidadão no lugar onde ele vive, que é o município. Assim, não seria preciso mendigar tanto ao rei, ou à rainha.


Uma constatação irrefutável de toda esta celeuma é que a burocracia estatal, a tecnocracia individualista e a ineficiência administrativa seguem sufocando o Brasil. Que sentido faz criar nova instituição pública de ensino no lugar onde já existe uma, bem equipada e qualificada, porém ociosa? Não seria mais barato e estratégico enviar os elefantes brancos da Furb para um spa de emagrecimento, reorganizar a universidade blumenauense  e pô-la a funcionar em sua plenitude? Ou farão um campus “meia-bocaâ€, com meia dúzia de cursos sem importância, apenas para aplacar cobranças, agradar a prestadores de serviços e amealhar alguns votos para a próxima e eleição?


Por outro lado, se resolverem investir pesado e oferecer um campus moderno, diversificado e bem estruturado, jogarão a pá de cal que falta sobre a Furb. Afinal, por mais que digam que as instituições (UFSC e Furb) não serão concorrentes, fica difícil acreditar nisso. Ofereça vagas gratuitas em cursos de áreas como engenharia, computação, informática, medicina, odontologia, ou demais das ciências biológicas ou exatas, para ver se muita gente que faz um esforço extra, hoje, para estudar na universidade de Blumenau, não irá trocar a Furb pela federal.


São questões que não podem passar à margem do debate e que certamente têm ou terão reflexos para o meio local, seja política, econômica ou socialmente. Melhor pensar nisso agora, portanto, enquanto há tempo.




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