A origem anglo-saxã deu-lhe frieza suficiente para não chorar, mas, reservadamente, o presidente do Teatro Carlos Gomes, Ricardo Stodieck, reconheceu que a emoção minou-lhe a resistência quando foi ao microfone para falar, no centro do Auditório Heinz Geyer. Era mais uma manhã quente e abafada de Blumenau, mas, ali, não havia desconforto algum, graças à eficiência do sistema de refrigeração de ar, que refrescava os cômodos do imponente imóvel.
Os visitantes estavam todos muito confortáveis, portanto, absolutamente envolvidos pela atmosfera encantadora e mágica daquele que, para quem entende do assunto, é um dos melhores palcos teatrais do Sul do Brasil. Ali, castigado pela emoção que teimosamente tentava disfarçar, Stodieck agradecia com muita convicção, tanto ao Ministério da Cultura quanto à s empresas que, através dos incentivos da Lei Rouanet, investiram na última etapa da reforma que remodelou o maior sÃmbolo da cultura blumenauense, ao longo de mais de uma década de obras.
– Precisamos fazer um agradecimento especial ao Ministério da Cultura e às empresas Cia. Hering, Souza Cruz e Weg – discursou o presidente do TCG.
Já o ex-prefeito Félix Theiss, presidente do Conselho Administrativo do teatro, foi menos forte diante da emoção e acabou sucumbindo mais visivelmente a seus efeitos. Se não chegou às lágrimas, acabou com a voz sensivelmente embargada e desmanchou-se:
– Nada engrandece mais a alma do que a cultura, que cria mais energia, que cria mais vigor. E a sonoridade deste palco é uma das que mais engrandece a arte no Sul do Brasil.
Pois tem toda razão o ex-prefeito. Cultura é exatamente isso, e o TCG de Blumenau é, sim, um grande sÃmbolo da cultura no Sul do paÃs. Não resta a menor dúvida disso, não há quem possa refutar tal ponderação.
A emoção que acometeu duramente a todos que estiveram no Auditório Heinz Geyer na inesquecÃvel manhã desta quinta-feira fez ainda outra vÃtima. Ao microfone, o diretor-executivo da unidade blumenauense da multinacional Souza Cruz, Paulo Kuroski, concluiu:
– É o orgulho por Blumenau que faz momentos especiais e de emoção como este acontecerem. O que fazemos é agradecer pelo que a cidade faz pela empresa.
Um dia inesquecÃvel
Quem esteve no Auditório Heinz Geyer na manhã desta quinta-feira provavelmente não esquecerá jamais este dia. Depois de uma visita aos novos banheiros e camarins do teatro, as cerca de 50 pessoas que estiveram no evento tiveram a honra de pisar no palco principal da casa para assistir, face a face, a três apresentações muito especiais: o pianista Thiago Mondini, o grupo de sapateado do Carlos Gomes e um solo hilariante de um dos atores da escola de teatro do TCG.
Um momento único, emocionante e certamente inesquecÃvel. Para quem gosta de arte, uma prova fina e cabal de que Blumenau tem, sim, uma veia artÃstica bem saliente.
As apresentações mais do que especiais foram a parte mais marcante da cerimônia que marcou o fim da última etapa de recuperação do Carlos Gomes. Ao todo, foram investidos R$ 6,2 milhões em obras e equipamentos, que, na opinião do presidente da sociedade teatral blumenauense, tiraram a estrutura do século 19 e a colocaram no 21, sem deixar de preservar suas caracterÃsticas históricas.
– As instalações do teatro estavam com uma aparência fúnebre. Hoje inspiram quem vem aqui – comentou Ricardo Stodieck durante o evento.
Além da remodelagem dos camarins, a estrutura cênica do Carlos Gomes ganhou novos suportes de iluminação e cenário, tornando-se mais versátil e completa. Recebeu também um piano de cauda alemão Steinway Grand Concert, que certamente fará muito bem aos ouvidos de quem for ao teatro para ouvi-lo. Ao longo de uma década de investimentos na recuperação, o TCG contou com o apoio de outras empresas e instituições, como Altenburg, Badesc, Bradesco, Bunge, Eletrobrás, Eletrosul e Karsten, que investiram no projeto através da Lei Rouanet.
Yes, nós queremos cultura
O coordenador cultural do Teatro Carlos Gomes, Rodrigo Dal Molin, observa que o público de Blumenau e região vem dando retorno aos investimentos que foram feitos na melhora da estrutura. Segundo ele, a oferta de espetáculos no teatro aumentou 20%, enquanto a média de público teria subido 30%.
– Alguns espetáculos, como stand up comedy e shows musicais de expressão, por exemplo, têm ocorrido sempre com casa lotada – informa.
O blumenauense, então, é capaz de trocar o x-salada e o chope pelo teatro? Na opinião de Dal Molin, sim. Desde que seja estimulado a isso, claro, com a oferta de opções variadas e, sobretudo, de qualidade.
O musical Orfeu 21, por exemplo, que teve duas temporadas lotadas, já planeja a terceira, e com uma novidade: através de uma parceria com o governo do estado, a produção 100% blumenauense vai receber em seu público os estudantes da rede estadual de ensino.
– Atraindo este tipo de público, vamos formando gerações futuras de frequentadores do teatro e isso acaba estimulando a produção artÃstica – constata o coordenador cultural do TCG.
E assim, forma-se um ciclo virtuoso em que todos ganham: artistas, produtores e espectadores. Parabéns, portanto, a todos que se envolveram e seguirão se envolvendo nesta transformação profunda, devolvendo à cultura blumenauense boa parte do brilho perdido. É bom ver Blumenau, mais uma vez, dando exemplo.