Análise em Foco > Personalidade
POLÃTICA AMEAÇA TECIDOS IDEOLÓGICO E DEMOCRÃTICO
Segunda-Feira, 25 de Fevereiro de 2013

O “Caso Renan†enseja diferentes e importantes análises, diretas e indiretas. A mais óbvia delas, claro, é a que trata do inaceitável: como pode a mais distinta instância do Legislativo brasileiro colocar em seu comando um sujeito com o currículo do senador alagoano? Como podem os nobres senhores daquela Casa confiar seu rumo a alguém com tantos apontamentos indesejáveis na carreira? Mais uma vez, portanto, fica evidenciada a importância de se acabar com o voto secreto no Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas de todo o país. Afinal, se não pode impedir a ascensão de pestes morais como Renan Calheiros (PMDB) ao poder, a transparência no Legislativo iria pelo menos deixar claro quem são os responsáveis por excrescências da política brasileira como esta.


Outra análise pertinente em relação ao fato também é recorrente: parte da culpa pelo que está acontecendo é do próprio eleitor, que não se cansa de devolver a Brasília os párias de sempre, tão manjados e abominados, mas que invariavelmente retornam para o centro do poder única e exclusivamente por decisão de quem os elege. Assim, não se pode culpar apenas a Renan e seus comparsas, mas a todos que os colocaram lá. Estes, aliás, talvez sejam os maiores culpados. 


Sem limites


O ponto de vista menos observado ao se olhar para o caso, no entanto, talvez seja o mais importante: está mais do que na hora do Brasil limitar o número de mandatos de seus homens públicos. Não é possível admitir que uma pessoa possa passar uma vida inteira cumprindo cargos eletivos, mamando na teta do Estado, sugando a seiva da máquina pública, aniquilando a capacidade das instituições seguirem seu curso de forma mais independente e eficiente. 


Renan Calheiros, por exemplo, está em seu quinto mandato, vai completar quase 20 anos de poder no Senado Federal – descontando apenas o tempo em que ficou fora por renunciar ao cargo, às vésperas de uma (então) iminente cassação. Isto, definitivamente, não é nada democrático, não faz nenhum bem para a nação. É uma aberração, principalmente em um país de política caudilhista como o Brasil, em que os coronéis feudais ainda distribuem muitas cartas – a maioria delas escondidas sob a manga do paletó e do colarinho – e fazem do voto um comércio.


Assim, é necessário pensar, urgentemente, em limites para o exercício de mandatos eleitorais – lembrando que até o ex-presidente Lula, dizem, pensa em voltar. É preciso incentivar a renovação do cenário político, estimular a oxigenação dos partidos, fomentar o surgimento de novas lideranças – de preferência aquelas comprometidas de fato com o bem estar da população. Do jeito que está, os tecidos ideológico e democrático da estrutura social poderão sofrer asfixia e até falência múltipla, num curto espaço de tempo. O Brasil está politicamente doente, a caminho da UTI. Por isso é preciso fazer alguma coisa, e rápido.


Voto distrital


Esta é mais uma oportunidade para se bater também numa outra tecla: o Brasil precisa de uma reforma urgente em seu sistema político e eleitoral. O voto distrital, por exemplo, que divide o eleitorado em porções iguais e distribuídas homogeneamente por todo o território nacional, independentemente de unidades federativas ou regiões, é um dos caminhos para vencer o câncer que se prolifera a partir de células malignas como as que dominam a política brasileira.


Afinal, um estado minúsculo, pobre e atrasado como Alagoas, com pouco mais de três milhões de habitantes, não pode ter mesmo número de senadores que São Paulo, por exemplo, 13 vezes maior, desenvolvido e pujante economicamente. Esta é outra excrescência grave da política brasileira. É ela que permite o surgimento dos Renans, Sarneys e Collors que tanto prejudicam a saúde política do país – Fernando Affonso Collor de Mello, aliás, segue pelos corredores de Brasília graças à mesma Alagoas que elege Renan sem nenhum constrangimento.


Assim fica difícil, assim realmente não dá. Acordem, portanto, senhores, e façam as reformas das quais o país tanto precisa. Antes que seja tarde demais.




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