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O RISCO DA PRECIPITAÇÃO NA COBERTURA EDITORIAL
Domingo, 05 de Maio de 2013

EDITORIAL AEF


Frente aos fatos que preencheram o noticiário nos últimos dias, tanto em nível local como regional e até nacional, o Análise em Foco sente-se na obrigação e no dever de emitir uma opinião sobre o assunto. Com o ex-prefeito de Blumenau, João Paulo Kleinübing (PSD), flagrado em conversas telefônicas pouco convenientes para um gestor público de seu calibre, através de escutas montadas pelo Ministério Público estadual, há que se deixar absolutamente claro que o único compromisso do portal se dá para com a verdade dos acontecimentos, o comprometimento de seus relatos com o interesse do internauta (que deseja compreende-los melhor) e a sempre inabalável missão de traduzir a notícia da forma mais verossímil e bem fundamentada possível, em vez de apenas veiculá-la. 


Por um lado, então, tem-se indícios mais do que inquestionáveis de que alguma coisa errada pode ter acontecido na gestão passada. Querer não enxergar a isso é o mesmo que querer negar ao heliocentrismo. Por outro lado, tem-se uma completa imprecisão em relação à verdadeira dimensão dos eventuais erros cometidos, e isso, da mesma forma, parece igualmente claro e cristalino. Pode ter sido apenas um deslize administrativo cometido para agilizar a tramitação de obras e recursos, pode ter sido um megaesquema de corrupção, como sugere o MP.


Entre estes dois pólos tão distantes, há um percurso enorme. E, embora erros sejam sempre erros, é preciso ter muito cuidado e responsabilidade na hora de dimensioná-los. Principalmente quando isso acontece em praça pública, como está ocorrendo agora com o ex-prefeito de Blumenau e como ocorreu também com seu antecessor, Décio Nery de Lima (PT). O petista foi acusado de diferentes irregularidades, mas terminou condenado “apenas†por fazer propaganda institucional irregular, executada com recursos públicos e associadas a seu nome. Kleinübing, por sua vez, está sendo colocado no centro do que seria um escândalo de R$ 100 milhões, mas as evidências apontadas até agora ainda estão longe de comprovar tal suposição.


Amplitude incerta


De concreto, portanto, há somente a possibilidade latente de que algo de errado pode de fato ter acontecido. A real amplitude deste erro, contudo, ainda parece tão incerta quanto o futuro das investigações que estão em curso para dimensioná-lo. Afinal, se o MP tinha sinais claros de que os cofres públicos poderiam estar sendo tão duramente golpeados, por que não fez nada para impedir o suposto saque? Por que deixou que uma soma tão elevada de recursos fosse usurpada dos cidadãos? O que teria levado os promotores a esperar o fim da festa para divulgar a lista de prejuízos causados por ela? Estas são perguntas emblemáticas, cujas respostas podem implicar em uma série intrigante de derivações do caso.   


Desta forma, o caminho mais sóbrio para tratar da questão é esperar pelo fim das investigações do MP e pela denúncia que até agora não foi oferecida à Justiça pela promotoria, após seis anos de investigação. Entre a condenação prévia e sumária de alguém a quem as leis asseguram pressuposta inocência, e a cautela responsável da sobriedade editorial, a editoria do portal certamente opta pela segunda opção. Entre o erro de parecer tendencioso e o de cometer excessos injustificáveis, fica-se com o ônus do primeiro equívoco.


Por isso o Análise em Foco  tem procurado a sobriedade na cobertura do assunto. Sem apelar para o jornalismo chapa branca nem tampouco para o marrom, opta pela responsabilidade e pelo bom senso ao formular argumentos sobre o tema. Nesta linha, que o Ministério Público possa seguir cumprindo o papel legítimo de investigar, a Justiça de julgar e os envolvidos de se defender. É assim que se solidifica a democracia, sem excessos, com o menor número de imprecisões possível e muito comprometimento com a ética e o respeito ao bem-estar social. Sem estes três fundamentos, vive-se um estado de totalitarismo e privação, não de liberdade e desenvolvimento.  


Espírito democrático


Convém reconhecer que, até o momento, os supostos envolvidos no esquema do Tapete Negro têm mostrado um comportamento responsável, procurando não desqualificar o trabalho dos promotores nem o das diferentes instâncias de poder envolvidas no processo. Num país que, para proteger contraventores do colarinho branco tenta-se tirar até a legitimidade moral e funcional do Poder Judiciário, como ocorreu recentemente em Brasília, é um avanço verificar a postura madura dos blumenauenses.


Cabe torcer agora para que a promotoria possa seguir seu trabalho sem interferências políticas e o Judiciário, da mesma forma, possa fazer o julgamento do caso com toda a isenção necessária. Se houver culpados, que eles possam ser punidos com todo o rigor necessário, inclusive com a privação da liberdade, se for preciso. Caso haja inocentes entre os ora suspeitos, que se possa resguardar-lhes a dignidade e o direito de não sofrer linchamento moral prévio. Que tudo possa transcorrer, pois, dentro de um espírito democrático e civilizado, isso é o que mais interessa, pois fortalece a democracia.




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