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ATÉ QUANDO USAREMOS MORFINA NO LUGAR DE ANTIBIÓTICOS PARA TRATAR TECIDO SOCIAL?
Quarta-Feira, 29 de Maio de 2013

OPINIÃO DO ANÃLISE


No último dia 18, o patético episódio das 900 mil pessoas correndo atônitas a caixas eletrônicos para sacar R$ 152 milhões em benefícios do Bolsa Família permitiu à sociedade visualizar mais uma vez a perigosa situação de dependência social à qual foi submetida parte da população brasileira, que hoje tem enorme dificuldade para sobreviver sem a mesada estatal oferecida pelo governo. Ante à boatos de que o programa seria suspenso, a massa de desesperados que hoje depende do recurso foi às ruas para garantir sua migalha, antes que o mundo acabasse, ou que fosse preciso trabalhar mais duramente para ter dinheiro no bolso. Parecia o Day After, o Armageddon ou o Dia D.


Além de patético, o episódio foi para lá de triste, por demonstrar de forma tão eloquente o quão dependentes nos tornamos do paternalismo estatal. No passado, este decadente suplício social até que ajudava a gerar crescimento econômico, pois tirava um contingente significativo de miseráveis da sarjeta e os entregava ao mercado de consumo. Hoje, contudo, a gastança desenfreada que financia o Bolsa Família – além do aparelhamento e do fisiologismo da máquina pública – drena uma soma volumosa de recursos da sociedade, que está fazendo falta na hora de investir em infraestrutura e educação, por exemplo, pilares indispensáveis para qualquer projeto de desenvolvimento sustentável.


Na lanterna do crescimento


O resultado está aí: inflação em alta e crescimento em baixa. Enquanto todos os países do grupo chamado Brics (Brasil, Rússia, Ãndia, China e Ãfrica do Sul) cresceram acima de 2% (Ãndia e China acima dos 6%) em 2012, o Brasil penou para fazer sua economia avançar irrisório 0,9%, e ainda viu a inflação se aproximar de 7% – uma excrescência típica dos trópicos. Como produzir no Brasil é muito caro (entre muitos fatores justamente porque a mão-de-obra é pouco qualificada e a infraestrutura defasada), as empresas preferem aumentar preços a produzir mais, na hora de aplacar a demanda gerada pelo consumidor. Por outro lado, a concorrência dos importados, que ajuda a segurar os preços no mercado interno, atinge em cheio a já combalida indústria nacional, estrangulando a geração de mais riquezas e prejudicando o desenvolvimento social – não é à toa que a geração de novos postos de trabalho caiu 21% nos quatro primeiros meses do ano, em comparação com mesmo período de 2012.


Pois é exatamente por isso também que, associadas aos tumultos do último dia 18, estão as novas previsões de mercado feitas na semana, que apontam para a possibilidade da inflação ficar acima da meta e o Produto Interno Bruto (PIB) crescer menos que o esperado em 2013 – foi a segunda vez no ano que o crescimento da economia foi revisto para baixo. Agora, segundo estimativas, a economia brasileira deve crescer, se tudo der certo, 2,9% (não será surpresa, contudo, se novas revisões,para baixo, vierem pelo caminho). Para um país que ainda precisa distribuir R$ 20 bilhões por ano em esmolas, é muito pouco, convenhamos.


Gastança sem fim


Enquanto isso, a União quer um orçamento 16% mais alto em 2014, para gastar ainda mais e pior em ano eleitoral – possivelmente aumentando também o número de beneficiados com o Bolsa Família.


E o pior disso tudo: o sistema de benefícios sociais não está conseguindo impedir a formação de novas gerações de dependentes. Ou seja, as crianças que davam direito aos pais de receberem o recurso estão começando a ter filhos e fazendo destes sua própria porta de acesso ao Bolsa Família. Assim, conclui-se que o programa age apenas como um analgésico, combatendo a dor, mas não cura a infecção e com isso não melhora a saúde do paciente, que seguirá dependendo de morfina por tempo indeterminado, talvez até a morte. Até quando, portanto, precisaremos sustentar nossos miseráveis, em vez de tirá-los de fato da miséria? Conseguiremos um dia transformá-los em trabalhadores qualificados? Ou seguiremos empurrando a sujeira para baixo do tapete com a distribuição de esmolas? O que farão os beneficiados quando ficarem sem o benefício?


A estrutura federativa, fiscal, política, social, econômica e administrativa do Brasil, qualquer um pode perceber, vai mal das pernas, de forma que, se não forem feitas reformas profundas e urgentes, daqui a pouco vai faltar dinheiro até para o Bolsa Família. Aí, pelo andar da carruagem, o país pode acabar entrando até em recessão. Abram o olho, portanto, senhores, o alerta está dado, e há muito tempo.      




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