Análise em Foco > Personalidade
QUE CAMINHO TOMARÃO OS PROTESTOS?
Sexta-Feira, 21 de Junho de 2013

O brasileiro está insatisfeito. As diversas manifestações ao redor do país mostram isso. Bastou um estopim para que várias reclamações viessem à tona e tomassem enorme proporção. O aumento das passagens de ônibus desencadeou uma série de protestos em várias cidades do país, e vieram numa enxurrada, como alguém que durante anos segura suas frustrações, até explodir em fúria. E essa fúria exprimida não necessariamente tem uma reivindicação pontual. É apenas raiva acumulada sendo despejada. Dedos apontados para todos os lados.


A raiva existe. Os motivos existem. Cabe saber se essa energia será canalizada para um alvo definido. Se surgirão lideranças, ou se a onda de protestos se perderá em diversas frentes, até o dia em que essa indignação, sem um alvo específico, se extinga e voltemos ao nada.


O movimento ainda é amorfo, porém legítimo. O povo quer mitigar sua alma. Está cansado de roubalheira, de dar e não receber, de ser explorado e não ter voz. O mundo está mudando cada dia mais rápido, mas velhos hábitos ainda persistem.


Gota D´água


O aumento das passagens foi a gota d’água para uma população cuja paciência já havia chegado ao limite em razão dos gastos desenfreados para a Copa do Mundo, com suas obras faraônicas para atender as exigências da FIFA, enquanto a maior parte da população se depara com condições precárias em suas necessidades mais básicas. Nossos governantes curvaram-se a todas as vontades da entidade máxima do futebol, torrando o dinheiro público. E, quando se viam em situação de aperto, cuspiam aquele argumento que já dera certo diversas vezes, do tal “legado da Copaâ€. Argumento que chega a remeter ao “rouba, mas fazâ€. Sim, nossos governantes torrarão nosso dinheiro em elefantes brancos, obras superfaturadas, mas ao menos teremos o legado da Copa. A verdade é que nem isso restará ao povo. O famigerado discurso não sairá do papel. Onde estão as obras de mobilidade urbana? Aeroportos modernos? Revitalização de áreas pobres? Nada foi feito na prática.


Marionete


Nos últimos anos o Brasil viveu uma escalada social. Jovens brasileiros, filhos da classe C, ingressaram em universidades gerando uma sociedade mais crítica, menos conformada. E com isso veio a revolta, pois vivemos em um país onde quanto mais conhecimento adquirimos, maior é a percepção de que somos lesados e deixados de lado por nossos governantes. Quanto mais instruído é o ser humano, mais profundos são seus questionamentos. De onde venho, para onde vou? Qual meu papel nesse mundo? E ninguém quer ter um papel de coadjuvante, ser marionete de um governo inoperante.


Trazer a Copa para o país nesse momento foi um tiro no pé das nossas autoridades, pois suscitou diversos debates sobre dinheiro mal investido, corrupção e demais mazelas. As pessoas abriram os olhos para o mundo ao redor, a omissão plena de nossos representantes, sem nenhum zelo pela população. E como gastar bilhões em um evento festivo, enquanto pessoas morrem por falta de atendimentos em hospitais, por fome, vítimas da violência urbana?


Juventude deslocada


O Mundial da FIFA trouxe indignação para as mesas de discussão, o aumento das passagens trouxe o povo para as ruas. Mas a questão é maior do que tudo isso. É o desabafo de uma juventude deslocada, num mundo em constante mutação, mas de conceitos ultrapassados. Esse é um fenômeno que vem se alastrando de forma global, não apenas no Brasil. Não é um movimento partidário, nem de algum idealismo batido.


É uma ruptura com o status quo, um anseio por mudanças, por um novo caminho. Resta saber qual é esse caminho que tomaremos.


Por Thomas Madrigano, 24 anos, cidadão blumenauense e brasileiro indignado




+ Notícias
Todos os direitos reservados © Copyright 2009 - Política de privacidade - A opinião dos colunistas não reflete a opinião do portal