O Brasil muitas vezes é realmente um paÃs patético. Distribui esmolas a seu povo mas não consegue fazer sua economia crescer a nÃveis sustentáveis; condena polÃticos corruptos e depois volta atrás para aliviar-lhes a pena; faz demagogia com a descoberta de recursos naturais (como as reservas do pré-sal) e depois precisa de ajuda estrangeira para explorá-los; privatiza rodovias e depois precisa de interferência do Ministério Público para que regras dos contratos sejam cumpridas (caso da BR-101 em Santa Catarina); tenta privatizar aeroportos sem sucesso, para depois rever regras e refazer a tentativa. Entre outros aspectos que insistem em expor os traços de subdesenvolvimento do paÃs.
Agora, assiste-se ao desnecessário, condenável e inútil episódio da invasão do Instituto Royal, uma das mais importantes entidades de pesquisa cientÃfica do paÃs, operando com ótima estrutura e profissionais qualificadÃssimos. Em um paÃs tão carente de pesquisa de ponta, inovação e desenvolvimento de novos produtos, chega a soar ridÃculo o que aconteceu no municÃpio de São Roque (SP), onde cães da raça beagle foram “resgatados†por ativistas da causa animal.
É preciso salientar primeiramente que o excesso cometido pelos manifestantes do municÃpio paulista é na verdade um crime. Invadir um ambiente de natureza privada para promover saques e depredação, como ocorreu em São Roque, é atitude que passa longe do respeito à lei e, como tal, precisa de punição, sob pena de tirar a legitimidade de qualquer cobrança popular em relação ao trabalho das autoridades e dos homens públicos. Ora, se o que a sociedade brasileira quer é uma mudança de postura dos agentes da lei, da ordem e do bem estar social, não pode ela mesma dar um exemplo deplorável como este. Toda manifestação, toda luta por mudança é bem vinda e até necessária, tanto quanto indispensável, mas precisa respeitar os limites do bom senso, da lei e do direito à propriedade privada, sobretudo. Do contrário, não se terá sequer um regime democrático.
Precedente
Caso o episódio de São Roque conte com a condescendência das autoridades, portanto, abrirá um precedente para que pessoas saiam invadindo as casas umas das outras ou qualquer tipo de estabelecimento para intervir por conta própria em situações que julgam insustentáveis. É a justiça feita com as próprias mãos, o que não tem nada a ver com democracia nem tampouco com liberdade, igualdade e fraternidade – valores primordiais do sistema democrático, conforme já pregava a Revolução Francesa.
Se existe algo de errado no uso de animais pelo Instituto Royal, são os órgãos fiscalizadores competentes que precisam apontá-lo. Se estes não estão cumprindo seu papel, então é o Ministério Público que precisa investigar – como já vinha fazendo, aliás, sendo prejudicado agora pelo sumiço das evidências. Nenhum tipo de violência contra os animais deve ser tolerado, pois, como seres vivos, merecem exatamente o mesmo respeito que merece o ser humano. Não se poderá jamais, todavia, ignorar regras básicas de organização social para executar polÃticas de proteção animal.
É importante deixar tudo isso bem claro num momento em que a sociedade aprendeu a se manifestar e pressionar os agentes públicos por mudanças indispensáveis para o bem estar e o desenvolvimento da nação. Se quer dizer a seus representantes o que eles devem fazer para melhorar a vida da população, o cidadão não pode, de forma alguma, dar ele próprio um mau exemplo. Corre o risco de perder legitimidade em sua luta.