Análise em Foco > Personalidade
À ESPERA DE UM MILAGRE
Quarta-Feira, 06 de Novembro de 2013

Por trás da notícia do cancelamento da edição 2014 da Feira Internacional de Produtos Têxteis (Texfair), há uma série de fatores a serem interpretados e que serão determinantes para o futuro do evento, que, de acordo com o diretor-executivo do Sintex, Renato Valim, ainda pode voltar – embora, a esta altura dos fatos, isso pareça quase um milagre. A feira têxtil organizada em Blumenau atraiu visitantes e compradores de diferentes regiões do Brasil e do exterior por várias edições, mas acabou sucumbindo a planos de contenção de custos por parte das empresas e à força de eventos concorrentes sediados em São Paulo, centro comercial do país.


Primeira discussão pertinente em relação ao assunto: a Vila Germânica é adequada para a organização de uma feira como a Texfair? Na verdade tudo leva a crer que sim. Quem já foi a eventos como a Feira Nacional da Indústria da Moda (Fenim), em Gramado, e o Salão do Automóvel, em São Paulo, para citar apenas dois exemplos de eventos bem sucedidos, perceberá que o Serra Park e o Anhembi não estão necessariamente tão à frente da Vila Germânica em termos de conforto. O espaço gaúcho tem área de estacionamento bem maior, e talvez isso até faça alguma diferença. O centro de eventos paulista, por sua vez, pode ter área útil mais extensa, mas esta vantagem é relativa dependendo do tamanho do evento. Em termos de conforto das áreas internas, contudo, a Vila Germânica não deve a nenhum dos dois.


Vale lembrar ainda que o Serra Park, onde ocorre a Fenim, até bem pouco tempo atrás era basicamente uma grande tenda sem refrigeração, cuja temperatura no interior realmente elevava-se bastante em alguns momentos da feira, que ocorre em fevereiro. Esta sempre foi uma reclamação recorrente de quem ia à feira gaúcha, aliás. Isso não impediu, contudo, que ela continuasse crescendo e se consolidando. Em 2014 vai para a 18ª edição.


Infraestrutura


Ocorre, no entanto, que se o Serra Park não é lá nenhuma obra prima de infraestrutura para eventos, a cidade de Gramado é. Tem ótimos hotéis, deliciosos restaurantes, opções variadas de lazer, comércio diferenciado e, sobretudo, flexibilidade de horários. Concordemos todos que Blumenau, infelizmente, não é assim.


Isso certamente tem alguma influência na dificuldade de se manter um evento como a Texfair na cidade. Quem viaja quilômetros para fazer bons negócios também quer se divertir, sair à noite todo dia da semana, comer bem, comprar a qualquer hora ou dia, conhecer atrativos turísticos interessantes sem hora marcada, desfrutar de bons hotéis. Em Blumenau, convenhamos, não são tarefas tão simples assim.


Logística


A questão logística é outro aspecto fundamental. Para chegar a Gramado, é possível descer do avião na capital Porto Alegre, onde está o confortável aeroporto Salgado Filho, e seguir por menos de uma hora até o Centro urbano da bela cidade serrana. Já para chegar a Blumenau, é preciso descer em Navegantes, que fica perto mas tem um péssimo terminal aéreo, ou em Florianópolis, que também não tem um aeroporto tão confortável e ainda fica a horas de distância, dependendo das condições do trânsito. Tudo isso também influencia.


Conjuntura


Por fim, não se pode deixar de considerar também o contexto econômico vigente. Se o Brasil estivesse crescendo a níveis mais elevados, gerando mais riqueza, produzindo mais, talvez até fosse possível promover a Texfair. Mas as empresas não estão com a saúde que poderiam estar, por isso fazem muito mais contas na hora de gastar e acabam abrindo mão de algumas possibilidades. Como, de acordo com o diretor-executivo do Sintex, a corrida pela diferenciação arquitetônica dos estandes deixou a Texfair muito cara, o gota parece ter caído no balde, fazendo-o transbordar.


De certa forma, as dificuldades da Texfair também refletem as dificuldades do Brasil, portanto. Se a situação vai muito bem para alguns setores, como agrobusiness, automobilístico e construção civil, outros segmentos da indústria e da prestação de serviços já não podem dizer o mesmo. Exatamente por isso a economia do país cresce 2% com inflação de 6%, um contra-senso paradoxal em qualquer planeta da galáxia.


Ressuscitação


É exatamente por isso que é preciso pensar em diferentes aspectos para se saber se a Texfair tem possibilidades reais ou não de voltar. Não será a melhora de apenas uma das deficiências constatadas que garantirá sobrevida à feira, será o rearranjo de todos estes componentes, inclusive a melhora do contexto econômico. Hoteis, restaurantes e opções de lazer, então, nem se fala. Talvez a Vila Germânica até precise de melhoras, mas certamente não será apenas seu upgrade que garantirá a volta da feira blumenauense.


Por isso, senhores gestores públicos, empresários e representantes políticos da região, tratem de dar as mãos em eventual tentativa de ressuscitação. Se cada um quiser resolver a coisa a seu jeito, ficará difícil e o evento que tanto orgulhava o Vale do Itajaí vai ser definitivamente apenas uma lembrança.


OBS: este artigo deveria ter sido publicado na semana passada, mas em função de problemas técnicos só pôde ser publicado agora




+ Notícias
Todos os direitos reservados © Copyright 2009 - Política de privacidade - A opinião dos colunistas não reflete a opinião do portal