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ERA UMA VEZ...
Domingo, 23 de Fevereiro de 2014

Era uma vez uma rodovia chamada BR-470. Atravessava uma produtiva e próspera região de um estado igualmente produtivo e próspero chamado Santa Catarina, localizado em um país já nem tão produtivo e próspero assim, infelizmente. Pela BR-470 escoavam tanto a produção de uma indústria pujante por natureza quanto o fluxo de pessoas que iam e vinham daquele belo, pacífico e encantador pedaço do Brasil.


Além de cortar ao meio este exemplar recôndito da nação, a BR-470 também era a principal via de ligação entre o Oeste e o Litoral Norte de Santa Catarina, ligando outra importante região do estado, com forte vocação exportadora, aos portos da costa catarinense e à BR-101.


Mas nem toda esta importância foi capaz de fazer com que autoridades, gestores públicos e representantes do cidadão catarinense, principalmente aquele que habita o Vale do Itajaí, onde está o maior gargalo da BR-470, saíssem em providência ao esgotamento da importante rodovia federal. Deixaram-na à míngua, esvaindo-se aos poucos em sua capacidade de permitir às pessoas uma locomoção rápida, segura e confortável. Vieram os longos congestionamentos, as mortes, os prejuízos para a indústria. Famílias destruídas, riquezas jogadas fora, empregos a menos gerados no mercado. Tudo em função do sufocamento logístico ao qual o estado e o Vale do Itajaí eram duramente submetidos pela falta de condições daquela importante rodovia.


Até que um dia apareceu uma fada madrinha e prometeu que aquele grave problema seria resolvido. Que a BR-470 seria duplicada, que dezenas de viadutos, elevados, vias marginais, alças de acesso e tudo o mais em termos de infraestrutura seria construído, transformando a moribunda rodovia em uma highway de fazer inveja às autobahn alemãs.


Poderes mágicos 


A bondosa personagem desta dura e difícil saga deu até data para entrega da edificação faraônica: 2014, justamente um ano de eleição naquele promissor mas eternamente adormecido gigante dos trópicos. Mas o tempo passou, passou, e nada da fada madrinha usar seus poderes mágicos para realizar o sonho da sofrida e desgastada população, que, no entanto, continuava a pagar impostos e arcar com suas obrigações diante do rei, que morava em uma longínqua terra chamada Brasília.     


Até que chegou 2014 e apareceram duas ou três máquinas e meia dúzia de trabalhadores para derrubar algumas árvores e revolver alguns metros de terra às margens da BR-470. Se era só uma coincidência ou não, o fato é que dali a poucos meses a população iria às urnas para eleger um novo rei, então ficou a pergunta: estaria pensando a fada madrinha em beneficiar alguém que não fossem os súditos da corte naquele momento? Iria ela abandonar a todos novamente após a eleição do novo rei?


Ao povo, restava agora apenas o consolo de poder vingar-se da manobra nas urnas, na hora de votar, dali a poucos dias.


É exatamente aí, contudo, que começa outro triste e fatídico episódio de Os Contos da Carochinha.  


(Este texto é um exercício de experimentalismo editorial do portal, e tem como objetivo oferecer ao internauta possibilidade a mais de leitura e consumo de informação)




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