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O HOMEM QUE COLOCOU A MÃO NA CONSCIÊNCIA DA ALEMANHA
Segunda-Feira, 04 de Agosto de 2014

A semana que inicia marca os 100 anos de um dos fatos mais importantes da história da humanidade: a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 4 de agosto de 1914, após invasão da Bélgica pelas forças da Tríplice Aliança (Alemanha, Austria-Hungria e Rússia). Mas é claro que, quando se fala da Primeira Guerra, não se pode jamais esquecer da sua continuação, que foi a Segunda Guerra Mundial, durante a qual ocorreu o mais lamentável de todos os capítulos da trajetória humana: o genocídio de judeus promovido pela máquina de guerra nazista, liderada por Adolf Hitler e sua gangue de assassinos psicopatas.


Neste contexto, existe um personagem do conflito que costuma ser menos lembrado, mas que talvez seja um dos mais importantes: o general norteamericano George Smith Patton, comandante do 3º Exército dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial. Foi ele quem liderou o fulminante e surpreendentemente rápido avanço das tropas aliadas pelo território nazista, para, ao encontrar o primeiro campo de concentração onde os judeus eram exterminados, mandar chamar representantes da sociedade civil alemã e observadores mundiais para que vissem com os próprios olhos o que o Fuhrer fora capaz de fazer.


Sujeito emblemático e de personalidade ambígua, amado por uns e odiado por outros, Patton tomou uma das mais sensatas e marcantes decisões da história ao descobrir as até então desconhecidas fábricas da morte montadas por Adolf Hitler. Caso tivesse simplesmente libertado os judeus que permaneciam vivos e encaminhado as pilhas de corpos que havia em cada campo, o general norteamericado teria privado a sociedade alemã de um aprendizado que a transformou na essência e fez da Alemanha um lastro de equilíbrio econômico, institucional e democrático importante para todo o mundo. Afinal, não haveria registro fotográfico capaz de substituir a experiência de estar em um campo de concentração para vivenciar o horror daquela indústria macabra da morte.


Depois de iniciar duas guerras em busca de expansão territorial e purificação étnica, os alemães percebiam,enfim, que haviam ido longe demais e precisavam parar. Foi graças à lição oferecida por Patton, que o povo alemão percebeu que era muito mais sensato e eficiente integrar-se ao mundo, ao invés de querer dominá-lo. Foi aquele momento que permitiu à Alemanha acordar da hipnose maldita à qual fora induzida por seu líder ensandecido. Se vissem apenas fotos e filmes, talvez estivessem até hoje acreditando que fora uma montagem, assim como ainda há quem acredite que as imagens do homem na lua sejam forjadas.


Certamente que para todos da comunidade internacional seria muito difícil acreditar naquilo sem ver com os próprios olhos, tamanho o horror da constatação. Por isso a decisão do general George Patton contribuiu para uma divisão de águas na história dos conflitos armados. Incentivou as organizações internacionais a aprimorar as convenções mundiais de guerra, a definir melhor os crimes contra a humanidade, a disciplinar com mais rigor o enfrentamento militar entre povos e nações.


Controle


Também reforçou a necessidade de se exercer uma observação mais rígida sobre o comportamento das nações, afinal a forma como Hitler conseguiu ocultar sua competitiva indústria de armamentos é uma coisa quase surreal nos dias de hoje. De acordo com os tratados de Estado feitos ao fim da Primeira Guerra Mundial, em 1917, a Alemanha não poderia fabricar nenhum tipo de arma e seu Exército não poderia ter mais de 100 mil homens. Pouco mais de duas décadas depois, em 1939, quando começaram a avançar novamente sobre os vizinhos da Europa, os alemães haviam produzido um arsenal devastador, que incluía aviões, tanques, veículos automotores e armas de grosso calibre, enquanto seus contingente de combate já reunia cerca de meio milhão de militares. Como toda esta movimentação bélica pôde passar desapercebida aos olhos da comunidade internacional? Algo inacreditável numa época em que a casa de qualquer um de nós pode ser vista pelo Google, através de satélite.


Hoje, portanto, quando se impõem duras sanções econômicas a quem se recusa a abrir as portas de seus projetos armamentistas e/ou nucleares, como ocorreu recentemente com o Irã de Mahmoud Ahmadinejad, tem-se como objetivo evitar que tragédias como a do passado se repitam no futuro.


Assim, se o mundo é um pouco mais pacífico hoje, é porque aprendeu a mais importante das lições trazidas pelas duas grandes guerras: quando os interesses e os exércitos entram em conflito, quem deve pagar com a vida é quem faz a guerra, não a população civil, que não têm nada a ver com a briga de seus líderes.


Precisão


Neste sentido, os norteamericanos também aprenderam a lição de Hiroshima e Nagasaki, passando a produzir armas de precisão no lugar das de destruição em massa e deixando as tragédias atômicas do Japão arquivadas no passado. Hoje, quando vão Ã  guerra, os Estados Unidos da América controlam seus mísseis e bombas por GPS, atingindo o alvo com margem mínima de erro e poupando o maior número possível de civis. Ainda matam inocentes, sem dúvida, mas em escala exponencialmente menor.  


Por isso, quando se olha para os 100 anos que se passaram desde a Primeira Guerra, percebe-se que, se os dois maiores conflitos da história jamais serão justificáveis, pelo menos trouxeram importantes aprendizados, que seguramente deixaram o mundo um pouco melhor e mais estável.


Tomara que não seja preciso mais um conflito de tais proporções para que se acabe com a instabilidade que  resta. Essa gente do Oriente Médio, do Leste Europeu e do Norte da Ãfrica, portanto, que pare de brigar, antes que seja preciso recorrer novamente Ã  violência para obter a paz.




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